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Feriado irlandês dedicado a personagem literário é comemorado na Capital

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Bloomsday ganha adeptos em Campo Grande e chega à quinta edição celebrando “Ulysses”

Em Dublin, na Irlanda, o Bloomsday começou em 1954. Em São Paulo, foi em 1988, por iniciativa do poeta Haroldo de Campos (1929-2003).

E em Campo Grande, a festa dedicada a Leopold Bloom, o mais célebre personagem do escritor James Joyce (1882-1941), teve a sua primeira versão em 2018.

Uma meia-dúzia de gatos pingados foram até o pub O Irlandês, na noite de 16 de junho daquele ano, para ler trechos do romance “Ulysses” (1922), conversar sobre a prosa revolucionária do autor e beber chope.

Teve até uma banda apresentando, ao vivo, música típica irlandesa, a Dublin Rovers.

Assim surgia o Bloomsday com sotaque pantaneiro, que ganha mais uma edição nesta quinta-feira, às 19h, com entrada franca, no mesmo local (Av. Afonso Pena, nº 1.650).

A festa literária empresta o sobrenome de Leopold Bloom, protagonista da obra de Joyce e alter ego do escritor, único personagem da literatura mundial com direito a um feriado nacional no seu país de origem.

Pelo menos até hoje. Cinco anos depois, o Bloomsday campo-grandense segue firme e forte, no mesmo pub, e o público que prestigia o evento certamente já não cabe em uma única mesa.

Estilo próprio

Nem durante os momentos mais críticos da pandemia, em 2020 e em 2021, a celebração foi interrompida, ainda que os literatos tenham precisado recorrer ao modo on-line para exaltar “o grande poeta de uma nova fase da consciência humana”,

como o ensaísta Edmund Wilson define Joyce.

Toda a saga do personagem, um publicitário, transcorre em um único dia, 16 de junho de 1904.

Na verdade, a perambulação de Bloom – que, sim, dialoga com a “Odisseia” de Homero já a partir do título do romance – dura 18 horas e avança pela madrugada do dia seguinte.

O intertexto com o clássico grego recorre à sátira para narrar a vida de um homem comum que sai de casa para as tarefas cotidianas e tem a sua própria Penélope, Molly.

Leopold Bloom é acompanhado em seu périplo por Stephen Dedalus, um escritor que já havia aparecido no primeiro romance de Joyce, “Retrato do Artista Quando Jovem” (1916), e que reforça o caráter autobiográfico de “Ulysses”.

Pioneiro no uso do monólogo interior como foco central da estratégia narrativa, o livro inova em diversos aspectos da criação literária.

A pontuação segue desavisada e pode confundir muitos leitores, digamos, tradicionais.

Joyce pratica neologismos, propõe estruturas inéditas, aguça uma terceira via ainda hoje instigante entre o realismo e o simbolismo, então dominantes no início do século 20, e possui até um quadro-esquema com palavras-chaves para servir de GPS aos mais incautos.

Tudo isso ao longo de quase mil páginas. Isso mesmo, as 18 horas de “Ulysses” renderam um calhamaço.

Solo fértil

“Em 2018, eu e o Carlo Fabrizio criamos a Sociedade Literária James Joyce de Campo Grande, com a finalidade de comemorar o Bloomsday, celebrar a literatura e a cultura irlandesa, e o projeto continuou”, diz o advogado Herbert Covre, que, com o colega de profissão e paixão literária citado, é o patrono do Bloomsday na Capital Morena.

“O Bloomsday em Campo Grande tem uma característica curiosa”, afirma Covre.

“Encontrar um pub irlandês, encontrar músicos que tocam música irlandesa, mostrou-se algo absolutamente relevante para uma capital do Centro-Oeste distante dos grandes centros e que a gente percebe que tem uma musicalidade aberta para todas as possibilidades”, explica o advogado, que adianta o perfil da plateia que foi se multiplicando no pub O Irlandês.

Bebemorar

“O público que participa é composto por frequentadores usuais do pub, mas também por aqueles que gostam de literatura e, sim, por alguns aficionados no Joyce.

Nós tivemos um caso, por exemplo, de um participante que no ano seguinte fez uma apresentação.

E um outro que participou também, que é o Luiz Henrique Raele Braga, hoje faz parte da Sociedade Literária James Joyce e tornou-se um dos organizadores”, relata Covre.

Mas o joycemaníacos vão lá para beber ou conversar?

“O tipo de celebração é completamente inspirado nos hábitos e costumes irlandeses. E me lembro do Finnegan’s Pub, lá em São Paulo [local do evento pioneiro no Brasil], ao realizar o Bloomsday, falar em uma bebemoração. Enfim, nada que fuja à tradição irlandesa. A farra e a alegria têm de estar presentes, assim como a música, a amizade. Isso é o Bloomsday”, diz o fã de carteirinha.

PROGRAMAÇÃO

Para celebrar o centenário de “Ulysses”, o Bloomsday d’O Irlandês terá:

  • “Free Jazz em Nighttown: Uma Leitura Musical do Episódio Circe, de Ulysses”, por Luiz Henrique Raele Braga e participação do baixista Gabriel Basso;
  • “To Joyce or To ReJoyce: A Escolha de Galindo”, apreciação de Caetano Galindo sobre a sua premiada tradução da obra;
  • “O Explícito e o Implícito: O Obsceno em Cena na Obra de James Joyce”, pensata de Carlo Fabrizio Campanile Braga”;
  • “A Odisseia da Publicação de Ulysses”, por Hebert Covre; leitura de fragmentos de “Ulysses” em ucraniano;
  • Apresentação da banda Dublin Rovers.

Além de cervejas irlandesas, O Irlandês Pub oferece alguns itens típicos no cardápio, como o Leprechaun Burguer, o Bacon Irlandês, o Breakfast Roll e o Fish and Fries.

Via Correio do Estado MS

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