Voz do MS

Cultura

Pantanal é retratado em exposição com grandes nomes da fotografia

jornalismo@vozdoms.com.br

Saga do principal bioma do Estado, que envolve a planície alagável mais extensa do planeta, ganhou exposição em São Paulo com obras de Alexis Prappas e mais

Duas semanas após o fiasco da COP26, a conferência do clima realizada na Escócia até 12 de novembro, o Pantanal, seus tipos humanos e a beleza resiliente da fauna e da flora da região da Serra do Amolar ganham destaque no circuito paulistano de artes visuais.

Sob a curadoria de Roberto Bertani, a exposição “Pantanal e a Physis – Olhar o Presente para Ver o Futuro”, que começou em 25 de novembro e vai até 20 janeiro.

Reúne obras de Alexis Prappas, Sebastião Salgado, Bia Doria e Victor Chahin com a proposta de mobilizar o público para a urgência da questão ambiental.

Parte das vendas será destinada ao Instituto do Homem Pantaneiro (IHP).

A mostra está em cartaz na Galeria Roberto Camasmie, Rua Bela Cintra, 1.992, Jardins, São Paulo, de segunda a sexta-feira, das 9h30min às 18h30min, e aos sábados, das 10h30min às 14h, com entrada franca.

Em um cenário com luzes, sons e outros elementos que simulam a atmosfera quente e úmida do Pantanal, os quatro artistas apresentam um conjunto de 20 trabalhos, entre fotografias e esculturas.

Em que repercutem suas leituras e sentimentos sobre o Pantanal e, de modo mais específico, a Serra do Amolar, na região de Corumbá, onde se localiza o IHP.

QUATRO OLHARES

Na verdade, toda a iniciativa foi orquestrada por Roberto Camasmie e o coronel Angelo Rabelo, diretor-presidente do IHP.

Pintor há mais de 40 anos, reconhecido por uma expressão ultrarrealista que não ignora certa sensibilidade kitsch, Camasmie esteve na Serra do Amolar e o que viu tocou o seu coração: uma natureza exuberante e potente, capaz de projetar beleza e força para se refazer mesmo diante de tanta devastação.

Em seguida, o artista logo decidiu abrir a pauta de seu ateliê-galeria, localizado na esquina da Alameda Lorena com a Rua Bela Cintra, um ponto nobre da capital paulista, para outros criadores envolvidos com a causa.

“Tentei traçar um recorte que pudesse contemplar não só a especificidade da produção poética e artística de cada um.”

“Mas criar um diálogo entre esses quatro olhares sobre a questão do meio ambiente”, afirma o curador Roberto Bertani.

“Todo o processo se deu a partir da leitura de como tem se dado essas questões de aquecimento global e de uma natureza que luta em seu processo de recuperação.”

“Nós procuramos encontrar um termo, uma lógica para tentar trazer a essência do que é a natureza. Os artistas aqui elencados fazem um registro resultante dessa luta”.

PRAPPAS

Alexis Prappas celebra as boas companhias na mostra, “especialmente Sebastião Salgado”, e comenta a sua ligação com a temática.

“Sempre tive admiração e respeito pelos homens e mulheres que vivem no Pantanal. Os lugares de difícil acesso e recursos limitados moldam a vida nestas regiões.”

“Em contrapartida, a beleza ímpar das paisagens e da vida animal exuberante são combustível para a criatividade e me inspiram a registrar cada vez mais as suas nuances.”

“Desde as coisas microscópicas e texturas abstratas às grandes paisagens panorâmicas”, afirma o consagrado fotógrafo.

Nascido em Sorocaba (SP) e estabelecido em Campo Grande desde a infância, Prappas, aos 47 anos de idade, tem uma trajetória de quase três décadas na criação de imagens para a grande imprensa e outros segmentos.

Além de seus reconhecidos projetos autorais, que muitas vezes se voltam para o registro do Pantanal, bioma mais importante de Mato Grosso do Sul, que envolve a planície alagável de maior extensão no planeta – 624.320 quilômetros quadrados – no território de três países.

Uma das marcas de seu trabalho é a sofisticação e o apuro visual no acabamento plástico das imagens.

REGISTRO ESTÉTICO

O artista diz que não teme o eventual risco de excessos estéticos na hora de dar o toque final em seus trabalhos.

Esse é um debate recorrente entre os praticantes da fotografia artística, que busca ir além do registro figurativo e propõe sentidos a partir da sensibilidade de quem está atrás da câmera.

“Nunca me preocupei com a estetização, pois acredito que cada um tem sua linguagem e seu propósito na fotografia.”

“Eu falo que ainda estou construindo isso e acho que é uma coisa que nunca para a evolução do olhar e o seu direto resultado nas minhas fotografias. A estética muda conforme nós adquirimos experiência”, afirma Prappas.

“Sempre há o risco de estetização da abordagem, mas é importante que você crie algum tipo de artifício que permita essa reflexão e essa desestetização daquilo que se está oferecendo”, afirma Roberto Bertani.

“Com isso, o galerista convidou um cenógrafo, que é o Juan [Castiglione], que está elaborando uma intervenção no espaço expositivo, criando um clima muito próximo do que seria esse ambiente do espaço do Pantanal.”

“Além das obras, existe uma intervenção cenográfica simples, mas contundente, que estará disponível nos primeiros dias da exposição para trazer um pouco desse clima para São Paulo”.

PHYSIS

Sobre o termo que orienta o conceito e dá nome à exposição: “Procurei dentro da própria expressão o que poderia ser importante para uma abordagem um pouco diferente.”

“E cheguei a physis, que significa fazer brotar, nascer, produzir, termo que é muito utilizado pelos filósofos gregos pré-socráticos, que entenderam que physis é o elemento primeiro da natureza”, diz o curador.

“Ele é eterno, perene, a transformação, o fundo eterno, imortal, onde tudo nasce e tudo volta, aquilo que é invisível para o nosso olhar, a nossa percepção, mas que tem muito a ver com o processo que permanece vivo e que traz uma reflexão para um processo de resistência, luta e sobrevivência”.

Bertani aponta o trabalho de Alexis Prappas – quando mostra, por exemplo, “um processo de queimada acontecendo, de recuperação, de animais que se transpõem de um lado ao outro fugindo de um desastre” – como ilustração desse recorte.

O fotógrafo anuncia como um de seus próximos projetos, além de mostras individuais no Brasil e no exterior, um livro com seus registros, para levar “estas belezas e dificuldades do Pantanal” para o maior número de pessoas.

“Ele tem um trabalho bastante importante acompanhando esse período de queimadas na região do Amolar e traz aí algumas leituras bastante particulares”, diz o curador.

PROPOSTA COMUM

“São quatro percursos diferentes, porém paralelos, e a proposta comum de fazer com que a gente abra o nosso olhar para um assunto que é de todos nós”, segue Bertani.

“Temos o Sebastião Salgado, internacionalmente conhecido, assim como a Bia Doria, com suas esculturas a partir de reaproveitamento de material que a natureza disponibilizou ou sobras resultantes de algum ataque a esse ambiente e que ela transforma e nos provoca com obras monumentais.”

“E o Victor Chahin, que também tem o registro das suas imersões no Pantanal sobre as figuras do ambiente, os elementos, os animais, a flora, a fauna”.

Do mesmo modo, coronel Rabelo vê nas iniciativas culturais mais uma chance de despertar a sensibilidade para a valorização da natureza e, “de maneira especial”, a Serra do Amolar.

“Não só a fotografia de figuras como Sebastião Salgado e Alexis Prappas, mas também por meio do balé da Cia. de Dança do Pantanal, que nos privilegiou com a presença e um espetáculo que está sendo finalizado.”

“Assim, buscamos esse caminho como uma forma de aproximação e de educação”, afirma Rabelo. Um dos renomados fotógrafos do País, Salgado doou integralmente a renda a ser obtida com a venda de seus trabalhos.

Prappas, Doria e Chahin ficarão com uma parte menor da venda de suas obras, 50% vão para as ações do IHP e o restante será destinado a cobrir os custos de produção de “Pantanal e a Physis – Olhar o Presente para Ver o Futuro”.

Coronel Rabelo antecipa que a agenda de 2022 está em discussão, “privilegiando os artistas da terra e outros que estiveram no Pantanal e demonstraram sensibilidade e respeito pelo nosso trabalho”.

Via Correio do Estado

Comentários

Últimas notícias