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Saúde

Centro Especializado da Capital encontra novas sequelas em pacientes de MS

Redação
Problemas como perda de memória, quadro de pânico e outros podem ser observados até 5 meses após alta

O tratamento para paciente com sequelas causadas pela Covid-19 em Campo Grande é realizado no Centro Especializado em Reabilitação (CER), administrado pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Campo Grande (APAE).

De acordo com a supervisora de fisioterapia do setor, Sarita Baltuilhe, alguns pacientes desenvolvem diabetes e outros Acidente Vascular Cerebral (AVC) em decorrência da doença.

Ainda de acordo com ela, algumas novas sequelas têm sido notadas, como perda de memória, quadro de pânico e depressão por medo de reinfecção e até medo de a família se reinfectar.

“Muitos pacientes que nem ficaram internados ou intubados apresentaram sequelas sérias depois da doença. Alguns chegam até de cadeira de rodas, com o pulmão bastante comprometido, com dificuldade cardiorrespiratória”, explica a fisioterapeuta.

Cerca de 20 pessoas são atendidas por semana no CER/Apae. A média de idade dos assistidos é de 40 a 70 anos e conta com uma equipe multiprofissional para que o atendimento seja realizado, atendendo todas as necessidades do assistido.

“Um paciente precisa, muitas vezes, passar por uma série de profissionais, como fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeuta, enfermeiros, cardiologistas, terapeuta ocupacional e assistente social. Há pessoas que não conseguem nem pentear o cabelo ou se vestir, fazer coisas do dia a dia”, explica.

“É muito difícil a gente precisar as sequelas da doença. Isso depende da pessoa, de como o vírus se instalou, o que acometeu. É muito complicado falar. Entre o que observamos, existem quadros de dificuldade na visão, e, além disso, também observamos dificuldades quanto ao equilíbrio. Mas o paciente só recebe alta quando está completamente recuperado, o que leva em média cinco meses”, completa a fisioterapeuta.

Sarita comenta também que não são apenas os pacientes adultos que chegam para a reabilitação. “Também recebemos crianças com quadro semelhante ao dos adultos, como dificuldade de respirar, pânico, fadiga e tudo mais”, conclui.

SEQUELAS

Depois de mais de um ano da pandemia da Covid-19, pesquisadores continuam estudando a doença. De acordo com a pesquisa coordenada pelo professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, o biólogo James Venturini, em 60% dos pacientes que tiveram a forma leve da doença a sequela se apresenta até quatro meses após a alta.

“Apesar da forma leve da Covid-19, cerca de 60% apresentaram alguma sequela após quatro meses da doença, principalmente cansaço [fadiga], dores de cabeça e alteração de olfato/paladar. Esse dado reforça que a doença é mais complexa do que sabemos. Estamos buscando explicações que justifiquem esses sintomas prolongados da Covid-19. Em breve, teremos algumas respostas para esse aspecto da doença”, coloca o pesquisador.

O projeto tem diversos subprojetos em andamento com o objetivo de compreender melhor a Covid-19 em Mato Grosso do Sul.

Os estudos contêm a vigilância virológica em profissionais da saúde, epidemiologia molecular, sequelas, avaliação imunogenética e, de acordo com James, algumas dessas áreas estão em fase mais adiantada e outras ainda em etapa de coleta de dados.

“Acredito que nos tornamos mais preparados para realização de pesquisas e de exames diagnósticos para Covid-19 e outras doenças infecciosas e parasitárias. Hoje, temos uma infraestrutura forte e moderna, que não tínhamos antes da pandemia. Além disso, passamos a integrar redes nacionais que têm favorecido a maior qualidade nas testagem e novas parcerias para a realização de pesquisas sobre a Covid-19”.

Com as novas variantes da doença, o cenário foi um pouco modificado. Mato Grosso do Sul vive os piores momentos, chegando ao ápice da doença, com hospitais lotados e recordes em número de óbitos. Para o pesquisador, neste um ano, o que mudou foi a dinâmica do vírus.

“O que temos observado é um tempo mais rápido dos sintomas aparecerem após o contágio e os casos graves serem muito mais abruptos. Mas isso se deve ao fato de que os casos aumentaram muito e, assim, se tornam mais aparentes. Além disso, a possível circulação de novas variantes, que sabidamente são mais transmissíveis, tem contribuído para esse perfil dinâmico da doença. Não podemos esquecer que o colapso do sistema de saúde também está intimamente relacionado a essa mudança na dinâmica da doença. A sobrecarga leva a um número maior de óbitos”, afirma.

O próximo passo da pesquisa é terminar as coletas, realizar análises laboratoriais e então a publicação dos resultados em revistas científicas.

“O tempo da pesquisa é sempre diferente do tempo urgente da assistência em saúde para os pacientes. Apesar de velocidades diferentes, a pesquisa é sempre mais lenta. No entanto, o conhecimento científico gerado é que vai fornecer as melhores evidências para tomadas de decisão pelos gestores”.

O professor acrescenta ainda que, além disso, a disponibilidade de novos tipos de diagnósticos, tratamentos e vacinas depende do conhecimento gerado a partir dessas pesquisas e de as decisões dos gestores e as novas opções de controle da doença estarem mais rapidamente disponíveis e de modo efetivo.

PESQUISA

A pesquisa avalia de forma sistêmica e integrada a Covid-19 em Mato Grosso do Sul e tem como objetivo promover ações integradas de pesquisa, vigilância e suporte técnico-científico para gestores e profissionais da saúde.

O estudo é coordenado pelos pesquisadores da Faculdade de Medicina (Famed), James Venturini, e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Alimentos e Nutrição (Facfan), Ana Rita de Castro Coimbra Mota.

Inicialmente, o projeto tinha 35 pesquisadores e profissionais; hoje, a equipe que atua nos diversos subprojetos compreende em mais de 50 pessoas, incluindo alunos de iniciação científica e pós-graduação.

Via Correio do Estado

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