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Rota Bioceânica: Porto Murtinho quer preparar cidade para o novo ciclo econômico

Redação
Um dos desafios do projeto deverá ser vencido em uma etapa de longo prazo

Integrando parte do território reivindicado pelo Paraguai antes da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), Porto Murtinho por muitas décadas ficou isolada do resto do Estado, no extremo sudoeste, por falta de estradas e de investimento público.

Às margens do Rio Paraguai, no entanto, foi um importante entreposto comercial desde o século 19, passando pelos ciclos da erva-mate e do tanino e tornando-se centro de pecuária tradicional do Pantanal.

Os imponentes casarões construídos há mais de um século por grandes e influentes comerciantes hoje integram o centro histórico e contam os tempos de prosperidade econômica que perduraram até 1970, com o tanino.

Explorada desde 1882, a erva-mate impulsionou a cidade, fundada em 1911. A alta produção era levada ao rio por 800 carretas e 20 mil bois, com destino aos portos platinos e, de lá, para Inglaterra, França e Itália, declinando nos anos 1920.

Preservar os prédios centenários que contam a história da ocupação daquela fronteira, palco de sangrentas batalhas e da riqueza que aflorava dos ervais e da produção do tanino, faz parte de um projeto da prefeitura de Porto Murtinho para resgatar a memória do lugar.

Uma das primeiras e emblemáticas construções da cidade, o Castelinho, marca a história de amor e tragédia entre o comerciante uruguaio Dom Thomaz Herrera e sua amada mulher Virgínia.

ALEGRE E COLORIDA

Vivenciando um novo ciclo econômico, como centro estratégico da Rota Bioceânica (Atlântico-Pacífico) e polo logístico hidroviário, Porto Murtinho está em processo de grandes transformações.

Além de investimentos em infraestrutura e em capacitação de mão de obra, a prefeitura quer preparar a cidade, urbanisticamente falando, para o novo boom, inserindo também o murtinhense, para que a chegada do desenvolvimento contemple a todos.

Com a revitalização do centro histórico – são mais de 120 imóveis de grande e média relevância distribuídos por 12 quarteirões –, a cidade quer criar novos produtos turísticos e de entretenimento, formando uma rede de gastronomia e circuitos de visitação que incluem a área portuária.

Neste espaço, onde fica o prédio da prefeitura, construído em 1920, e vários monumentos, serão instaladas áreas de lazer com uma praia artificial de mil metros.

“Queremos a nossa cidade mais colorida e alegre, transformando o centro histórico em uma das principais entradas para receber o turista e nos preparando também para a chegada dos novos investidores”, afirma o prefeito Nelson Cintra.

“Hoje, com 109 anos, Murtinho tem pouco mais de 17 mil habitantes, mas em cinco anos terá 40 mil. Precisamos avançar em infraestrutura, em serviços, e contamos com o apoio do governo do Estado, do Sebrae e da Sudeco”, pontua.

PERTENCIMENTO

Um dos desafios do projeto deverá ser vencido em uma etapa de longo prazo: integrar a população a esse novo momento, fazendo as pessoas acreditarem nas mudanças que virão e que vão gerar desenvolvimento e qualidade de vida.

O murtinhense deve se sentir como parte de algo maior que já está acontecendo. Esse sentimento de pertencimento será trabalhado a partir de um inventário de todos os imóveis envolvendo a parte histórica e seus moradores.

“Muitas vezes uma residência simples pertenceu ou acolheu pessoas ilustres, que fizeram história na cidade. Queremos que os moradores se sintam parte dessa história para, com isso, elevar a autoestima da população”, explica o professor Braz Leon, 52 anos, nativo fronteiriço.

“Aqui já se nasce falando três línguas [português, espanhol e guarani]”, se autodefine o também escritor e autor de 10 livros, três dos quais sobre a fundação e sobre fatos épicos de Murtinho.

O levantamento de cada prédio (público e privado) para embasar o projeto da nova Porto Murtinho foi concluído esta semana.

“A iniciativa de revitalizar os prédios históricos nasceu da necessidade de resgate desse espaço público, local onde a cidade se desenvolveu, mas que hoje encontra-se em estado de abandono, e também incentivar os moradores a recuperar residências que fazem parte dessa história, que é de todos”, explica o prefeito.

Via Correio do Estado

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