Voz do MS

Geral

Romance e ficção são caminhos para detentos recomeçarem

Redação

[Via Correio do Estado]

A última série de televisão sobre o sistema prisional brasileiro ainda estava na memória de Pedro Dias Marques, 22 anos, quando o estudante visitou pela primeira vez uma penitenciária em Campo Grande.  “Claro que tem blocos e blocos dentro das cadeias, mas você tem a impressão quando assiste a um programa de televisão de que tudo é uma bomba relógio. A nossa experiência tem sido diferente e surpreendente nesse sentido”, explica o acadêmico.

Pedro é um dos estudantes  da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), que participam do “Projeto de Remição pela Leitura” desenvolvido pela Fadir (Faculdade de Direito) e que oferece aulas de leitura e resenha para detentos do Centro de Triagem Anízio Lima, Presídio de Trânsito de Campo Grande e Instituto Penal Feminino Irmã Zorzi.

Segundo a professora de direito penal da UFMS, Andrea Flores, os alunos de direito normalmente iniciam o projeto com uma visão mais fictícia da realidade prisional. “Na penitenciária, os alunos entram em contato com pessoas que cometeram erros e precisam cumprir a pena por esses delitos. Ao mesmo tempo o detento tem o direito de se ressocializar. A universidade federal quer contribuir com isso e o projeto é a nossa parcela de ajuda nesse objetivo”, explica.

Andrea explica que se impressionou com a procura dos alunos em participar das aulas de leitura e resenha. “Aproximadamente 25 estudantes participam atualmente, mas 160 demonstraram interesse durante as inscrições. Vamos procurar contemplar todos, fazendo uma espécie de rodízio entre os alunos”, acredita.

DOAÇÃO 

Para viabilizar a iniciativa, os acadêmicos realizaram uma campanha de doação de livros. No início, os próprios professores adquiraram alguns exemplares para completar o número necessário para as primeiras aula, porém, como em cada mês os livros são trocados, ainda não há a quantidade necessária para a manutenção do projeto. “Fizemos essa campanha de arrecadação e foi um sucesso. Muitas pessoas doaram livros e de temáticas diferentes. Para o projeto precisávamos de vários exemplares da mesma obra, então tivemos a ideia de trocar em um sebo da cidade os que faltavam”, ressalta Andrea.

Os livros escolhidos têm temas variados, como aventura, ficção, romance e auto-ajuda. Segundo Andrea, o último estilo é uma dica dos profissionais da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), que também participam da iniciativa.

As aulas no sistema prisional são dividas em uma oficina de leitura, onde os detentos escolhem a obra que gostariam de ler, e depois uma oficina de resenha, em que ele são orientados a como escrever os textos a partir das interpretações pessoais acerca da obra.

Os alunos do curso de Direito são os responsáveis por corrigir as resenhas, já que apenas dessa forma, o detento ganha o benefício da diminuição de pena. “Pela lei a recomendação é de cada livro concede o direito de diminuir a pena em 4 dias. O preso só pode ler uma obra por mês e a nota da resenha deve ser superior ou igual a 6,0. A correção das resenhas é feita por uma comissão formada pelos alunos e  profissionais do presídio, como psicólogos e assistentes sociais”, acrescenta a professora.

As primeiras resenhas impressionaram Andrea. “Você percebe que há vários níveis de escolaridade, sendo que algumas resenhas são bem interessantes, enquanto outras demonstram que alguns detestos tem uma dificuldade na letra e uma escolaridade mais baixa”, esclarece.

Quem quiser ajudar com a doação de livros pode entrar em contato pelo telefone (67) 3345-7425.

Comentários

Últimas notícias