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Exposição do artista plástico Evandro Prado reflete sobre a democracia brasileira

Redação

[Via Correio do Estado]

Brasília é o maior símbolo da democracia brasileira. Construída no alicerce do otimismo, a cidade, que tem prédios de Oscar Niemeyer, é reduto de políticos e foi palco de muitas decisões históricas. Para Evandro Prado, artista plástico sul-mato-grossense, a cidade é também inspiração para a mostra Alvorada e Confronto, que será aberta no sábado, dia 20 de julho, às 19h30min, no Sesc Cultura, em Campo Grande.

As obras que integram a exposição em Campo Grande são inéditas, mas essa série é desenvolvida pelo artista plástico desde 2018 e foi exposta no Memorial da América Latina de São Paulo. “O interesse de retratar Brasília surgiu inicialmente com o meu interesse pela arquitetura do local, principalmente por Oscar Niemeyer, que desde 2004 eu estudo e acompanho, tenho mais de 30 livros sobre a arquitetura dele”, explica Prado.

A arquitetura é o fio condutor para outro assunto que prende a atenção do artista, a questão política brasileira. “Depois vem a questão histórica, que envolve Brasília, o período histórico em que ela foi construída, o modernismo, o presidente Juscelino Kubitschek e o sonho de construir o Planalto, uma capital moderna, o símbolo do desenvolvimento. Todo esse clima de otimismo resultou em um golpe militar quatro anos depois de sua construção. É a metáfora do Brasil que não deu certo, que foi, mas não foi”, comenta Prado.

Mas, em vez de a cidade ser retratada de forma otimista, o artista optou por mostrar os monumentos sempre ancorados em estruturas de sustentação, que podem indicar a construção ou a ruína deles. “É como a frase que diz ‘É ainda construção e já é ruína’. Eu acredito que esse é o momento para falar sobre isso, porque vivemos em uma crise política que dura cinco anos, desde 2014 eu vejo o País em uma crise política, moral e que não consegue sair”, esclarece. Cerca de 20 obras integram a mostra em Campo Grande, que sofreu mudanças em relação à original, apresentada em São Paulo. “O espaço aqui é menor, então, praticamente todas as obras são inéditas, apenas duas já foram expostas”, indica.

Nas cores, mais uma provocação, em vez do céu azul e o pôr do sol famoso da região Centro-Oeste, as telas receberam um horizonte opaco. “A arquitetura aparece na pintura em preto e branco. O céu de Brasília é conhecido por ser colorido, muito bonito, como em Mato Grosso do Sul, então decidi neutralizar esse céu, porque ele representaria um otimismo. As cores são ocres, em tons pastel, envelhecidos, como fotografias antigas”, reflete. Para Prado, é uma metáfora do Brasil que ainda não deu certo.

POLÍTICA

A questão política é uma constante na vida do artista plástico sul-mato-grossense, que não tem medo de tocar em assuntos polêmicos.

A exposição Tem que Manter Isso Aí, Viu?, a qual permanece aberta até o dia 25 de agosto, no Centro Cultural de São Paulo, apresenta em óleo sob tela dezenas de capas de revistas dedicadas à ex-presidente Dilma Rousseff, que mostram como a líder foi retratada ao longo dos anos pela mídia. “Por meio de uma vaquinha on-line, vou conseguir lançar um livro sobre a mostra, com as obras que foram expostas”, explica.

Além das questões ligadas à democracia, Prado permaneceu durante um bom tempo inspirado na religiosidade. Logo no início da carreira, em 2006, o artista lançou a exposição Habemus Cocam, no Museu de Arte Contemporânea (Marco), em Campo Grande, quando retratou símbolos religiosos ao lado de marcas de empresas famosas, como a Coca-Cola.

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