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Com dois ouros em Tóquio, meta de Yeltsin é medalhar em Paris, em 2024

Redação
Medalhista paralímpico de Mato Grosso do Sul trabalha para manter o alto padrão

Duas vezes medalhista no paratletismo nos Jogos Paralímpicos de Tóquio (Japão), em agosto, Yeltsin Francisco Ortega Jacques, nascido em Campo Grande, na Maternidade Cândido Mariano, no dia 21 de setembro de 1991, tem como meta, aos 30 anos de idade, conquistar novamente o pódio do paratletismo.

Desta vez nos Jogos Paralímpicos da França. No calendário oficial, a próxima Paralimpíada está marcada para acontecer entre os dias 26 de julho e 11 de agosto de 2024. A casa dos jogos será nada mais nada menos que Paris.

Na prática, o bicampeão sul-mato-grossense não pretende ficar só nos dois ouros obtidos no Japão, ele trabalha por projetos de outras conquistas.

Mas, mesmo olhando para os seus novos objetivos, Yeltsin não se esquece de Tóquio. Ele escreveu uma grande história na capital japonesa, com dois recordes quebrados.

O paratleta de Campo Grande venceu com larga vantagem os 5.000 metros rasos da classe T11 (atletas com deficiência visual, com baixa ou nenhuma visão), ao bater o tempo de 15min13s12, melhor marca das Américas e a dois segundos do recorde mundial.

Também foi o responsável por conquistar a 100ª medalha de ouro do Brasil nos Jogos.

O outro memorável ouro, seu segundo na Tóquio 2020, veio nos 1.500 metros rasos T11 e com direito a novo recorde mundial estabelecido.

Terminou a prova em 3min57s60 – a melhor marca era de 3min58s37, atingida pelo queniano Samwel Kimani na Paralimpíada de Londres 2012.

Yeltsin ainda tentou a terceira medalha na Tóquio 2020, na maratona da classe T12.

No entanto, por conta do cansaço, desistiu na metade da prova, quando completou 21 quilômetros pelas ruas da capital japonesa.

Na competição, o corredor teve como atletas-guia Laurindo Nunes Neto e Carlos Antônio dos Santos (Bira).

UMA HISTÓRIA

O certo é que os resultados no Japão vieram de muito esforço e de uma história que começou a ser escrita muito antes.

Jacques nasceu com baixa visão e foi diagnosticado e laudado aos dois anos de idade com uma amaurose congênita de Leber – uma doença degenerativa.

Com isso, percebeu desde cedo o esforço da mãe e, por meio da atividade esportiva, obteve maior autonomia de vida.

Já com 12 anos, iniciou no esporte de rendimento, começando pelo judô, com a busca de resultados de destaque.

Com isso, criava uma base esportiva forte, passando por natação, ciclismo e futebol. Até então a sua acuidade visual era melhor.

Mas, como a amaurose é progressiva, sabia que a tendência era ela se agravar com o passar do tempo. A limitação, porém, não lhe causou desânimo.

Com 16 anos, por exemplo, amigos o chamaram para participar de algumas corridas de rua que aconteciam em Campo Grande e que ofereciam provas bem inclusivas, que valorizavam a pessoa deficiente.

“Cada vez mais fui me apaixonando pela corrida e largando o judô. No mesmo ano em que comecei a correr já fui campeão brasileiro escolar paralímpico”, conta.

“No outro ano, já fui para o Circuito Nacional e para o Campeonato Mundial de Jovens, que foi realizado nos Estados Unidos. Eu tinha 17 anos. De lá para cá, nunca mais parei, continuei com as competições, inclusive internacionais”, relata.

“Em 2016, como a gente não tinha aqui em Campo Grande uma pista boa, uma estrutura como a gente tem hoje, acabei indo para São Paulo. Lá teve um surto de caxumba; peguei caxumba e, como não pude treinar direito, acabei saindo mal no Rio.”

O ano de 2017 foi bem difícil e também acabei não fazendo muita coisa. Em 2018 já melhorei. Em 2019, fui campeão parapanamericano em Lima [Peru]. Depois de Lima, o meu próximo objetivo era Tóquio”, relembra.

Em um resumo de seu retrospecto, Yeltsin cita entre as principais conquistas da carreira uma medalha de prata nos 1.500 m e uma de bronze nos 800 m no Mundial da França 2013.

Além da de ouro nos 1.500 m e nos 5.000 m nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015, além de um bronze na prova de 5.000 m e outro ouro nos 1.500 m no Parapan de Lima 2019.

São marcantes para ele também as participações que teve em duas maratonas: Buenos Aires e Sevilha.

“Com a pandemia de Covid-19, as coisas mudaram bastante na minha programação. Mas, como já havia uma pista boa em Campo Grande, fiquei por aqui. Fiz toda a minha preparação para Tóquio aqui mesmo, não precisei ir para São Paulo”, explica.

PREPARAÇÃO 

Em meio aos seus treinos, um deles no Centro Olímpico Vila Nasser, na Capital, Yeltsin falou ao Correio do Estado sobre as suas pretensões futuras.

“Uma das minhas metas daqui até 2028 é me manter no mais alto padrão de rendimento e passar pelos Jogos de Paris com bons resultados”.

Para isso, ele cumpre uma rotina variada de treinos diários, que vão de sessões em academia, passando por trabalhos de base mais forte até os trabalhos na pista propriamente dito.

O sul-mato-grossense sabe que o planejamento para o futuro continua atrelado ao seu esforço presente e é por isso que mantém um ritmo intenso de preparação.

Conta que a sua rotina, no aspecto geral, começa por volta das 5h. Alimenta-se e por volta das 6h sai para o treino, que vai até as 9h, retornando para casa.

Volta para uma nova rodada de treinamentos por volta das 16h. Janta cedo e dorme cedo. Não tem fim de semana. “Descanso somente um domingo por mês”, diz.

Para aguentar o ritmo tem todo um acompanhamento médico, tanto da parte de ortopedia quanto de nutrologia.

Recebe assistência de nutricionista e médico da seleção do Comitê Paralímpico Brasileiro e cuida bastante para não sofrer lesões.

Na sua preparação segue planejamento do treinador Comitê Paralímpico Brasileiro, mas conta com ajuda da esposa Janaína e de treinadores de Campo Grande.

Tem ajuda de guias na Capital como Guilherme Ademilson, Lutimar Abreu e Vilmar. Possivelmente, deve se juntar a ele mais um. “Precisamos de no mínimo três a quatro guias trabalhando direto”, resume.

RECURSOS

Sobre os custos de sua preparação, Yeltsin destaca que as despesas de um atleta de alto rendimento são elevadas, sendo necessário o apoio contínuo tanto do poder público quanto da iniciativa privada.

“O auxílio financeiro tem melhorado bastante. Contamos com alguma ajuda da iniciativa privada. Mas não é só o atleta. Tem toda uma estrutura e equipe trabalhando juntos, e isso é oneroso.”

“As viagens são caras, o material, etc. O custo é muito alto e muitas vezes é preciso investir tudo o que se tem no momento, e falta. Tóquio mesmo exigiu uma despesa muito grande”, relata.

No mês passado, o governador Reinaldo Azambuja anunciou que atletas e paratletas de Mato Grosso do Sul que representaram o Brasil em Tóquio 2020, disputadas neste ano por causa da pandemia da Covid-19, receberão do governo do Estado bolsas de até R$ 7 mil por mês até os próximos jogos olímpicos,.

O governo planeja investir cerca de R$ 720 mil no pagamento dos benefícios. Segundo a Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte), as bolsas serão de R$ 5 mil para atletas e paratletas participantes dos jogos.

Além de R$ 7 mil para medalhistas e de R$ 3 mil para os técnicos. “Esse valor nos dá segurança, estabilidade e tranquilidade para continuar e melhorar o trabalho”, diz Yeltsin.

Por fim, o medalhista reitera o seu propósito de continuar com as atenções voltadas para as grandes competições.

Para isso, além do esforço próprio, não dispensa a ajuda direta e frequente da esposa e o incentivo da mãe.

“São estruturas que dão base para que continue sonhando com outras grandes conquistas”, concluiu.

Via Correio do Estado

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