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“Bom Dia, Verônica” dribla os clichês e tom artificial de outras produções brasileiras do gênero

Redação
Sucesso nacional da Netflix, a série acerta ao apostar em trama forte e direção segura

A globalizada Netflix soube se adaptar muito bem ao Brasil. Seu catálogo nacional cresce de forma rápida, robusta e em sintonia com o que seu público espera. Para chegar a esse resultado, a plataforma se juntou a produtoras e diretores conhecidos do grande público, cuja as ideias e expertises não tinham espaço em programações engessadas de emissoras abertas como SBT, Record, e até mesmo da Globo, que vem se permitindo algumas ousadias direcionadas à Globoplay, mas que ainda prefere caminhar em territórios mais seguros. De tom mais experimental, séries como “3%” “Reality Z” e “Boca a Boca” focaram em histórias mirabolantes e efeitos especiais. Com a charmosa “Coisa Mais Linda” e a cômica “Samantha”, o serviço de streaming se aproximou das referências televisivas mais tradicionais. Agora, a Netflix aposta em um produto híbrido, que apresenta a estética apurada das séries com “viradas” dignas dos melhores folhetins em “Bom Dia, Verônica”.

Baseada no romance homônimo de Ilana Casoy e de Raphael Montes, que o escreveram sob o pseudônimo Andrea Killmore, a série de oito episódios conta a história de Verônica, de Tainá Muller, uma escrivã de polícia civil que trabalha em uma delegacia de homicídios em São Paulo. Casada e com dois filhos, sua rotina acaba sendo interrompida quando testemunha o chocante suicídio de uma jovem mulher. Na mesma semana, recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada pedindo por ajuda. Com três histórias potentes sendo contadas de forma paralela, a história avança sem floreios, mas aguarda o momento certo para revelar seus segredos. O capricho no roteiro é fruto da presença dos próprios autores na equipe. Se por um lado a história é contada com propriedade, é nítido que Ilana e Raphael tiveram certa dificuldade em “desapegar” de algumas passagens do livro. Nada que comprometa a fluidez da narrativa, mas algumas cenas mais detalhadas das barbáries sofridas pelas personagens confirmam o rigor estilístico da dupla. Não tão conhecidos do público de tevê, eles se mostraram exímios criadores de personagens com a profundidade perfeita para envolver o telespectador, como a protagonista, muito bem construída por Tainá, e o casal Janete e Brandão, um sopro de vitalidade nas carreiras de Camila Morgado e Eduardo Moscovis.

A força da narrativa encontra na condução segura de José Henrique Fonseca uma grande aliada. Um dos sócios fundadores da prestigiada Conspiração Filmes, de onde saiu por motivos pessoais para fundar a Zola, Fonseca tem produções como “Mandrake”, da HBO, e o filme “O Homem do Ano” valorizando seu currículo. Duas obras que demonstram habilidade na condução de narrativas policiais. Sendo assim, “Bom Dia, Verônica” dribla o tom artificial que predomina em outras incursões brasileiras pelo gênero, casos de “Na Forma da Lei”, da Globo, ou “Fora de Controle”, da Record. Com efeitos visuais acima da média, direção de arte eficiente e belo trabalho de caracterização, a série ainda elege a cidade de São Paulo e seus contrastes como um importante elemento cênico, utilizando-se do clima rápido e por vezes soturno da metrópole para ambientar melhor a história. Antes de chegar à Netflix, a série chegou a ser oferecida à Globo e não foi aprovada. Atualmente, está na lista de produção mais vistas da plataforma. Fato que não gera surpresas. Afinal, bem idealizada e realizada, “Bom Dia, Verônica” inaugura um novo episódio na teledramaturgia de gênero brasileira e ainda guarda bons ganchos para uma nova leva de episódios.

Via Correio do Estado

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