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Grupo Acaba comemora 50 anos com shows e novo disco

Redação
Faixas musicais e depoimentos reunidos em antologia do Grupo Acaba recontam a Guerra do Paraguai e as tradições regionais de Mato Grosso do Sul.

Assim como acontece com outros momentos da história nacional, os episódios e personagens do período imperial brasileiro, que se estende de 1822, ano da Independência, até 1889, quando a República foi proclamada, costumam guardar, com a importância histórica, uma série de controvérsias já a partir dessas datas oficiais e das narrativas que vêm no bojo.

Não à toa, para citar um exemplo recente, os descendentes do monarca Pedro II (1825-1891) divulgaram, no dia 27 de outubro, uma nota de repúdio à telenovela “Nos Tempos do Imperador”, veiculada no horário das 18h pela Rede Globo desde o mês de agosto.

Segundo a nota, o folhetim escrito por Thereza Falcão e Alessandro Marson, com direção de João Paulo Jabur e Vinícius Coimbra, atenta contra a honra do nosso carismático soberano ao fazer “investidas mentirosas contra a sua memória”.

Logo na semana de estreia, a trama causou revolta pelo modo como retrata os negros, levando os autores a um pedido público de desculpas.

À frente do Grupo Acaba, o cantor, compositor e violonista Moacir Lacerda também é daqueles que não deixam passar nada.

Veterano da música de raiz pantaneira e um apaixonado pela história da região, Lacerda acaba de concretizar um grande sonho, com o lançamento da antologia “A Chama da Paz na América do Sul”, título que reúne, na verdade, duas antologias, uma musical e outra literária, com um volumoso e valioso material que repassa a Guerra do Paraguai.

São dois discos do tipo CD/DVD, contendo, no total, mais de 300 arquivos no formato MP3, acompanhados de um libreto.

“Já fiz duas outras antologias e, para esta, a temática me veio em 2015 olhando para 2020, quando se completaram os 150 anos do término da Guerra do Paraguai”, diz o músico.

Maior conflito armado da América Latina, a Guerra do Paraguai uniu Brasil, Uruguai e Argentina contra o país vizinho e se estendeu de dezembro de 1864 a março de 1870, com um saldo de 370 mil mortos.

FOLCLORE

Lacerda propaga que o box é o “mergulho mais profundo já realizado em território brasileiro sobre a controversa guerra”.

A antologia musical apresenta 246 canções, desde um registro centenário de siriri e cururu, do folclore sul-mato-grossense, a composições recentes.

“Praticamente todos os nomes artísticos e culturais participam”, empolga-se Lacerda.

Menos Michel Teló, ressente-se o músico. O astro sertanejo chegou a acertar sua participação no projeto, mas, em virtude da demora na assinatura do contrato, Lacerda preferiu ser cauteloso e não incluiu a canção do jurado do “The Voice Brasil”.

Entre os destaques estão 22 faixas inéditas do Grupo Acaba. Boa parte delas é assinada pelo menestrel “acabense”, em parceria com nomes expressivos da literatura de MS, a exemplo de Raquel Naveira, Guimarães Rocha e Rubenio Marcelo.

Parceiros do grupo, como Luiz Porfírio, Douglas Santos, Vera Gasparotto, Luiz Sayd e Tião César também participam das criações.

Álbum inédito

Lacerda afirma que essas músicas equivalem a um álbum inédito do Acaba e jogam o foco em várias passagens marcantes da Guerra contra o Paraguai que se passaram em solo sul-mato-grossense.

“Destacamos lugares importantes, como o Forte Coimbra, operações militares representativas, como a Retirada da Laguna, e homenageamos combatentes indígenas e nordestinos”, explica o músico, feliz da vida com o evento de lançamento do box realizado no dia 29 de outubro no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS).

“Este trabalho é uma maneira de chamar atenção para os 150 anos do Tratado de Paz entre Brasil e Paraguai em 2022 e motivar uma maior integração não só com nossos hermanos paraguaios, mas com todos os artistas da América do Sul”, afirma o criador do projeto, que é patrocinado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul (FIC-MS).

Antologia Literária

Além das faixas musicais, “A Chama da Paz na América do Sul”, em sua chamada antologia literária, reúne os depoimentos em áudio de, entre outros nomes, Marcos Terena, Marlei Sigrist, Samuel Medeiros, Sylvia Cesco, Américo Calheiros, Fausto Matogrosso e Delasnieve Daspet, em um total de 86 convidados que, com repertório e olhar bastante diversificado, discorrem sobre tópicos que relacionam o grande confronto com o sul de Mato Grosso, propondo uma ampla reflexão que vai desde a posição geográfica estratégica à interação entre os povos de diferentes culturas que acabaram se misturando ao longo da fronteira.

Além do conteúdo informativo, há um bônus de envolvente imersão na antologia literária. Antes de cada faixa, ouve-se o canto de alguma ave habitante do Pantanal.

Um libreto encartado no box, de 16 páginas, traz a ficha técnica das mais de 300 faixas, com créditos que incluem os nomes dos compositores e músicos que participaram de cada gravação, os estúdios de gravação, além dos assuntos abordados e os respectivos convidados na parte literária.

50 anos do Acaba

“A Chama da Paz na América do Sul” é o 22º segundo lançamento do Grupo Acaba, que em 2022 completa 50 anos de atividades. O box custa R$ 64 mais as depesas de envio. Informações: (67) 99888-8168.

“Estamos muito contentes em abordar um assunto que faz parte da construção da nossa nação brasileira e com a parceria com o Instituto de Geografia e História Militar do Brasil [IGHMB, com sede no Rio de Janeiro]. É um marco para mim como compositor e pesquisador musical, além de expandir o raio de ação do Grupo Acaba, que agora canta não só o Pantanal, mas a América do Sul”, comenta Lacerda, que parte para o Rio para lançar a antologia nesta terça-feira, no Clube Militar.

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