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Saúde e Bem-Estar

Campanha aponta riscos e sintomas e mobiliza mulheres para o combate à endometriose

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Campanha Março Amarelo aponta riscos e sintomas e mobiliza mulheres para o combate à doença, que atinge ao menos 7 milhões de brasileiras

Nas regras do trânsito, a luz amarela do semáforo significa atenção e alerta o condutor para que reduza a velocidade até parar o veículo. Na campanha Março Amarelo, toda a mobilização volta-se para a endometriose.

A doença se caracteriza pelo crescimento excessivo do endométrio e atinge, pelo menos, sete milhões de mulheres no Brasil.

O número vem da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), que realiza seu oitavo congresso dedicado ao assunto de 31 de março a 2 de abril, em São Paulo.

Ainda neste mês, a ativista Caroline Salazar, que mantém o site A Endometriose & Eu, coordena iniciativas como a ação “Endoconectad@s Nova Era”, no domingo (13), e a “Endomarcha Mundial On-line”, no dia 27.

O endométrio é o tecido que reveste o interior do útero e, no mundo, essa anomalia decorrente de seu crescimento exagerado atinge 176 milhões de mulheres.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são nada menos que 10% da população feminina do planeta em idade reprodutiva. No Brasil, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a endometriose acomete, principalmente, quem está com idade entre 26 e 35 anos.

ALERTA GERAL

Mas todas as mulheres devem manter o alerta ligado para os sintomas, reforça o ginecologista Vitor Kussumoto.

Cólica muito intensa, diarreia ou dor para evacuar ou urinar durante o período menstrual; dismenorreia (dor pélvica de forte incômodo); dor durante as relações sexuais; distensão e estufamento abdominal; e infertilidade, independentemente de sintomas dolorosos, são apontadas como os indícios mais perceptíveis da endometriose.

O principal desafio, diz Kussumoto, é o diagnóstico tardio. “Como é comum que a mulher tenha cólica no período menstrual, às vezes, o diagnóstico demora demais. Estudos mostram que pacientes chegam a ficar até nove anos sentindo dores intensas e incapacitantes”, alerta o médico, que é especialista em reprodução assistida e integra o movimento Movendo.

Trata-se de mais uma iniciativa de amplitude nacional que soma forças e, por meio de eventos e debates sobre o tema, busca propagar a conscientização sobre a endometriose, divulgando seus sintomas e os possíveis tratamentos.

DEPOIMENTOS

“Sentia dores tão fortes no meu abdômen, antes e após a menstruação, que, muitas vezes, fui parar no hospital. Só descobri o diagnóstico dois anos depois”, diz Tayane Mafra, que passou por cirurgia para tratar da anomalia há um mês.

“Conviver com tanta dor e não saber o motivo é a parte mais difícil. A mulher que tem cólica intensa precisa desconfiar e pedir ajuda. No meu caso, a doença já havia atingido outros órgãos, como intestino e trompas”, conta Patrícia Malheiro.

Ao projetar-se para fora da cavidade uterina, o endométrio pode atingir outros órgãos, a exemplo dos ovários, dos intestinos, do reto e da bexiga. Embora não seja maligna, a endometriose, além de afetar a qualidade de vida da mulher, tornando-a incapacitada para diversas atividades rotineiras e é apontada como a principal causa de infertilidade feminina.

Quando o endométrio começa a crescer fora do lugar, ocorre inflamação e um processo espontâneo de cicatrização, o que acaba gerando mudanças anatômicas que impedem o pleno funcionamento das trompas, responsáveis pelos primeiros acontecimentos da fecundação. Além disso, as células inflamatórias podem afetar a qualidade do óvulo e do espermatozoide.

“Minha última cirurgia para endometriose foi em 2020. Precisei retirar um dos ovários e uma trompa. Por sorte, havia feito um procedimento de fertilização in vitro e congelei meus embriões antes disso. Depois de 10 anos tentando engravidar, estou extremamente feliz, com meu filho nos braços, mas ainda convivo com as dores, agora controladas com medicações”, relata Amanda Murad.

TIPOS

A ginecologista Suely Resende, que também trabalha com reprodução assistida, informa que existem três tipos de endometriose: a peritoneal, em que os focos da doença localizam-se apenas no peritônio e as lesões ainda são rasas e planas; a ovariana, em que geralmente se formam endometriomas, um tipo de cisto ovariano, além de aderências isoladas e menos densas; e a profunda.

Nesse terceiro tipo de endometriose, os implantes já invadiram diversas regiões ao mesmo tempo e, além de muitos, são mais profundos. “Mulheres com endometriose infiltrativa normalmente também possuem os outros dois tipos. Ou seja, lesões mais rasas e endometriomas”, orienta a especialista.

SEM CURA

“Não há cura definitiva para a endometriose, mas existem tratamentos que podem melhorar a qualidade de vida da mulher, prevenir a eventual progressão da doença e preservar a sua fertilidade. A cirurgia é mais indicada para pacientes com endometriose mais avançada, que em muitos casos leva a dores pélvicas intensas e limitantes, impactando negativamente na qualidade de vida da mulher”, explica o ginecologista Antônio Miziara.

Especialista em reprodução, como os colegas de ofício que participam desta reportagem, Miziara diz que a cirurgia também pode ser indicada para o tratamento da infertilidade.

“Podemos utilizar as técnicas de reprodução assistida de baixa e alta complexidade, de acordo com a avaliação individualizada de cada casal”, afirma o ginecologista.

DIAGNÓSTICO

Além dos exames de rotina durante as consultas ginecológicas, o diagnóstico pode ser feito a partir da descrição dos sintomas relatados pelas pacientes e de alguns exames específicos, como “o ultrassom transvaginal com preparo intestinal, também chamado de mapeamento para endometriose, e a ressonância magnética de pelve”, informa o ginecologista Thiago Souza, também especialista na área.

“É importante reforçar que o diagnóstico ou não da doença é de caráter clínico. Não existem exames de sangue confiáveis para afirmar ou excluir que a paciente tenha ou não endometriose”, explica o médico.

Mais cores neste mês de março

Além da mobilização pelo combate à endometriose, o mês serve de mote para outras duas campanhas preventivas.

O Março Azul-Marinho alerta para o câncer colorretal, e o Março Lilás para o câncer de colo de útero, terceiro tumor mais frequente em mulheres, ficando atrás apenas do câncer de mama e do colorretal.

Via Correio do Estado MS

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