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Após dois anos fechado, Museu de Arte Contemporânea reabre com quatro exposições

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Reabertura marca a retomada do Parque das Nações Indígenas como o mais importante equipamento cultural e de lazer da Capital

Fotografia, xilogravura, colagem, pintura e outras técnicas. Após dois anos fechado, o Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco) volta a abrir as portas ao público nesta quarta-feira, a partir das 19h, com a vernissage das quatro exposições que estarão em cartaz até 5 de junho, durante a primeira temporada programada pela instituição para 2022.

O evento é aberto ao público, com entrada franca.

São três mostras individuais, duas de fotografias e uma de xilogravuras, além da exposição coletiva “Entre Territórios”, somando, assim, em todo o programa de visitação, a participação de sete artistas de origens e propostas bem variadas.

Mariana Arndt, com “Portunhol Selvagem Feminista”, e Patrícia Pontes, com “Varais”, assinam as exposições fotográficas. Arlete Santarosa, com a mostra “Xilos”, repassa várias fases de sua atividade como xilogravurista. E a coletiva “Entre Territórios” reúne quatro jovens artistas estrangeiros que atuam em Campo Grande.

Além da reabertura do Marco em si, a primeira temporada de exposições do museu representa o início do que poderá ser uma espécie de retomada do Parque das Nações Indígenas como o principal equipamento público de cultura, lazer e esporte da Capital.

Na área do parque, de 1,16 milhão de metros quadrados, além da nascente do Rio Prosa, que forma um lago dentro do complexo, com infraestrutura de esporte e lazer ao redor, há muito para se aproveitar.

Criado em 1951, com o objetivo de preservar e divulgar o legado dos povos indígenas da região, o Museu das Culturas Dom Bosco (MCDB) funciona desde 2009 no local, que conta ainda com a Concha Acústica Helena Meirelles e com monumentos, a exemplo dos que fazem referência à zarabatana e do Cavaleiro Guaicuru.

Mais: tudo indica que o esperado Aquário do Pantanal, após mais de uma década, será inaugurado na segunda-feira (28).

Saudades do público

Lúcia Monte Serrat, coordenadora do Marco, diz que as quatro exposições inéditas que o museu abriga a partir de amanhã estavam previstas antes de o coronavírus fazer o circuito cultural do Brasil e do mundo entrar em pausa quase que completa por mais de dois anos.

“Tudo que está sendo posto foi escolhido no edital de 2020”, afirma a artista plástica e professora, que está à frente do museu há quatro anos.

“Todos os artistas presentes foram selecionados naquele edital. Mas, com a pandemia e a interdição, as temporadas acabaram sendo suspensas”, conta Lúcia Monte Serrat.

A interdição do espaço foi determinada em outubro de 2020, por conta do desabamento de uma parte do teto do auditório do Marco, jogando um balde de água fria na expectativa de quem aguardava a volta, ainda que gradual, das atividades, que estava programada para o mês seguinte.

“A chuva causou estrago, porque temos dificuldade de manutenção e as calhas estavam cheias de folhas. Esse prédio vai fazer 20 anos e é maravilhoso. Foi feito para abrigar o museu”, comenta a coordenadora. “Foi difícil. Tivemos muito trabalho interno nesse período, por conta das arrumações que o desmonte do acervo permanente exigiu. Em 2020, o grupo técnico foi para a [sede da] Fundação [de Cultura de Mato Grosso do Sul, que administra o Marco]. Voltamos no meio do ano passado e estamos trabalhando no subsolo”, afirma.

Para a gestora, o desafio, a partir de agora, será reabrir o espaço dentro das normas impostas pela pandemia e manter o fluxo de visitantes, que antes das restrições chegava a quatro mil pessoas por mês.

“Temos saudades do público e do movimento causado pelas visitações das escolas”, conta Lúcia Monte Serrat. O acervo permanente do museu conta com 1.700 obras cadastradas.

Entre “100 e 200” outras obras estão à espera de tombamento.

Selvagem feminista

Em sua exposição individual, “Portunhol Selvagem Feminista”, Mariana Arndt explora como temática o engajamento de gênero a partir da figura da “mulher brasiguaia fronteiriça”, em um processo criativo que a pesquisadora Ana Paula Kaimoti chama de “flânerie” (“passeio” em francês) pelas ruas de Assunção, Pedro Juan Caballero e Campo Grande, em que a fotógrafa “encena uma história invisível, por meio dos signos da conurbação fronteiriça”.

Mariana apresenta 19 fotografias impressas em pigmento mineral sobre papel vegetal, penduradas na parede, e cinco fotografias impressas em adesivo com base de acrílico, penduradas em manequins.

As fotos são acompanhadas dos versos do poeta Douglas Diegues, acrescidas de poesias, e os manequins “estão andando” em uma passarela com 56 notícias de violência contra as mulheres da região.

“As personagens das minhas fotografias são mulheres de Ponta Porã, Sanga Puitã/Zanja Pytá, Pedro Juan Caballero, Parque Gasory e Assunção, que, em sua maioria, trabalham no comércio e precisam lidar diariamente com o machismo”, diz Mariana, que atua como arte-educadora na região de fronteira com o Paraguai e, a exemplo do colombiano Julián Vargas, vibra por participar da reabertura do Marco após o longo recesso forçado.

Entre-territórios

“Estou bem ansioso, porque a gente vai abrir a primeira temporada depois de uma pandemia e depois de um processo de vacinação da população. É importante para nós retomar o espaço do museu depois das interferências que tiveram aqui para arrumar ele. Acho que, pelo menos, a comunidade artística está sentindo falta, sim”, diz Vargas, um dos quatro nomes do coletivo por trás da mostra “Entre-Territórios”.

Os outros integrantes são Miguel Benavides, também da Colômbia; Maria Chiang, argentina de ascendência asiática; e Poppy Carpio, da Venezuela.

“Como coletivo, a gente não tem nome por enquanto. Trabalhamos a sala sobre esse conceito de entre-territórios. Cada um de nós trabalha com um suporte diferente”, afirma Vargas, que veio fazer pós-graduação em Campo Grande, há seis anos, e acabou permanecendo na Capital.

“O Miguel vai trazer fotografias que ele fez nas viagens pela Colômbia, a maioria delas é de paisagens. A Maria Chiang tem pinturas, por exemplo, em guardanapos, em papéis mais soltos, acrílicos, coisas de uma escala menor. A Poppy faz um trabalho mais de colagem e de impressão digital. E eu faço um trabalho de pintura acrílica”, explica o colombiano. “De onde a gente vem? Quem que nós somos? A gente se identificou muito com essa relação e vimos que poderíamos trabalhar a ideia de território”, completa o artista de 32 anos.

Xilos e Varais

“Trouxe obras em preto e branco e coloridas de diferentes fases da minha carreira de mais de 30 anos, selecionando, entre outras, as séries: ‘Releituras de Dürer’; ‘Cenas da Cidade’ e a interpretação do livro ‘O Pequeno Príncipe’, de Saint-Exupéry (1900-1944)”, afirma a veterana gaúcha Arlete Santarosa, que apresenta seu trabalho em xilogravura.

A técnica utiliza matrizes de madeira para a confecção das gravuras e é muito associada à estética do cordel.

“Depois de dois anos de melancólica pandemia, é com grande alegria que exponho minhas fotografias no Marco”, afirma Patrícia Pontes, que assina a mostra individual “Varais”, em que explora um tema “puramente emocional que se tornou uma realidade inquietante”.

Roupas e panos pendurados no varal são um prato cheio para artistas da imagem fixa, a exemplo de Patrícia, ou da chamada imagem em movimento, como o cinema é conhecido.

De Fernando Bélens, com o instigante curta-metragem “Anil” (1990), a Roger Vadim, com o longa “E Deus Criou a Mulher” (1956), que lançou a musa Brigitte Bardot, os varais flamejam em propostas tão díspares quanto potentes sem perder o viço poético.

Via Correio do Estado MS

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