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Achar que a internet “superou” a TV é não entender os novos modelos de negócio dos grupos de mídia

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O avanço dos streaming e as novas linhas de receita das empresas de comunicação mostram que não faz mais sentido enxergar TV e internet em prateleiras diferentes

Eu faço muitas palestras sobre comunicação, principalmente pra grandes empresas. É uma das possibilidades que descobri depois de quase 20 anos de profissão. E falando diretamente com um público presencialmente eu me redescobri mais uma vez na minha jornada.

Quando a gente fala olhando pra uma câmera, a resposta das pessoas, mesmo que seja, imediata, acaba sendo fria. Vem por meio de uma mensagem nas redes sociais, um áudio ou, raramente, em vídeo. Nas palestras não. Em cima de um palco, olhando no olho de quem assiste, a interação é direta… tanto pro bem quanto pro mal, no caso de alguém tá dormindo ou fazendo cara feia a respeito do que vc tá falando… pode acontecer.

Um dos momentos bacanas desses papos é quando eu pergunto se alguém já viu alguma reportagem ou apresentação minha na “TV”. Muita gente acaba dizendo que sim. Aí eu pergunto onde e quando exatamente essas pessoas assistiram. Vários dizem que foi pelo Globoplay ou pelo YouTube da CNN. Brasil Aí eu pergunto se é TV e todos dizem que sim. Mas eu provoco, dizendo que o Globoplay e o canal no YouTube da CNN Brasil são internet. E repito a pergunta: “É TV ou internet?”. Normalmente é quando a maioria vê a tela azul do Windows.

E é assim já há muito tempo. Hoje, praticamente todos os veículos de comunicação minimamente ligados no que tá acontecendo na comunicação têm alguma presença digital. O problema é que uma grande parte do mercado ainda não aprendeu a gerar receita da parte que foge da tal da mídia tradicional. Mesmo em um momento em que a verba publicitária no mercado tem escorrido cada vez mais para os streamings e para os influenciadores.

Mas isso só é um problema para quem ainda se enxerga como uma empresa que não evoluiu. É claro que eu tô falando de um movimento que, nem de longe, é fácil e tranquilo. Mudar o foco da entrada de receita de uma empresa é sempre turbulento, cheio de incertezas e riscos. Mas no caso do mercado de comunicação, é, definitivamente, um caminho sem volta.

A questão, portanto, não é a TV querer recuperar o que ela perdeu para a internet. É ela entender que ela também é a internet. Pensa comigo: o que é mais fácil? Querer recuperar um cliente perdido para uma concorrência que oferece vantagens que você ainda não tem ou ampliar a sua atuação pra agregar mais serviços? Se isso não colocar a empresa de mídia tradicional em pé de igualdade com a concorrência, vai, no mínimo, posicionar essa empresa como uma produtora de conteúdo muito mais moderna, muito mais sexy pro cliente.

Até mesmo porque a Magnite, que é uma empresa especializada em vendas de anúncios, tem uma pesquisa mostrando que quase 3 em cada 4 brasileiros já assiste conteúdo nos streamings de TVs conectadas com propagandas dentro da programação. Deu pra entender? O próprio streaming tá usando a tática de ter publicidade dentro da programação, o que sempre foi estratégias das TVs e rádios tradicionais.

Ou seja, o fato, pra mim, é que a grande mudança não está necessariamente só no veículo ou na produção do conteúdo em si… está na distribuição. Quando a banda larga chegou no Brasil, há mais de 20 anos, ela permitiu que vídeos em alta qualidade pudessem ser entregues para quem assiste não mais por um sinal convencional de TV, mas direto pela internet. E como na internet é o usuário quem escolhe o que quer assistir, o conteúdo não ficou mais restrito a uma programação fixa de, no máximo, 24 horas por dia.

No modelo tradicional, quando a TV queria produzir e distribuir mais conteúdos ela tinha basicamente dois caminhos: o primeiro deles era criar novos canais, como fez por exemplo o Sportv, que abriu Sportv 1, Sportv 2, Sportv 3 e por aí vai. O telecine também partiu pra essa estratégia e criou Telecine Premium, Telecine Action, Telecine Pipoca, Telecine Cult e mais várias outras opções. Mas essa estratégia perdeu totalmente o sentido quando o modelo de streaming chegou com a possibilidade de concentrar em um único lugar uma quantidade quase infinita de conteúdos. E é o assinante quem determina o que quer assistir e quando quer assistir. É espaço também quase infinito pra publicidades, branded contents e afins.

Isso levantou a lebre e fez os grandes grupos quererem se transformar num streaming. Isso fez pipocar muitos serviços de vídeo on demand nos últimos anos. Hoje são tantos que o mercado já está quase saturado. A maior prova disso é o anúncio recente da Disney dizendo que vai fundir Disney Plus e Star Plus numa mesma plataforma.

Em vez de bancar duas operações custosas com conteúdos diferentes, eles entenderam que era mais vantajoso, do ponto de vista de business,  juntar tudo no mesmo balaio e vender o pacotão da alegria pra quem for assinar. Justamente porque o consumidor brasileiro já tá começando a ficar meio que de saco cheio de ter tanta assinatura ativa assim (não que eu seja porta-voz do público brasileiro, mas eu pelo menos tô com essa sensação faz tempo).

Faz sentido um futuro onde a lógica vai trazer um ou dois grandes agregadores de conteúdos onde vc faz uma única assinatura e escolhe se quer pagar mais ou menos de acordo com os pacotes. Deu pra entender o que significa isso na prática? É a mesma coisa que a gente ainda faz hoje assinando TV “a cabo”.

A gente tem pacotes e paga mais ou menos de acordo com o que a gente quer assistir. Entendeu como o processo é cíclico e, no fim das contas, tudo se mistura sempre? Aí eu te pergunto… o conteúdo que vai conquistar a sua atenção é TV ou internet? Tanto faz, desde que ele seja bom. E é isso que precisa ser discutido de verdade… a qualidade e a distribuição. E isso vai muito além da procedência, da plataforma tecnológica.

Via CNN Brasil

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