Corpo em movimento: espetáculo apresenta dança contemporânea
Espetáculo on-line de dança contemporânea reflete sobre como os corpos são vistos pela sociedade
Instigado pela forma como a humanidade vê os corpos, o dançarino, cantor, ator e compositor Thiago Viégas criou o projeto “Dissidentes”, que estreia dia 11 de junho, às 20h, no YouTube.
“Minha pesquisa sobre como explorar a singularidade dos corpos é realizada desde a graduação [em Artes Cênicas, pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul], com estudos sobre a técnica Klauss Vianna, mas especificamente este projeto comecei a elaborar no início do ano, como experimentação com meus alunos”, explica Thiago, que ministra aulas na companhia Luminis Escola de Dança.
Neste espetáculo, em específico, Thiago trouxe a vivência dos bailarinos Mariana Nocetti e Herbert Cleveland, que são mais altos que a maioria da população – 1,80 m e 1,96 m, respectivamente – e muitas vezes considerados desengonçados para o trabalho.
A ideia é ampliar a proposta para outros tipos de corpos no futuro. “É um projeto de continuidade, inauguramos com as características de corpos magros e de corpos altos, futuramente quero explorar outras realidades corporais, como corpos gordos, corpos baixos, corpos gestantes, pós-gestação, enfim, abranger outros lados da mesma moeda”, pontua.
Reflexão
Segundo o artista, o objetivo é promover reflexão. “Trazer em diálogo o questionamento do porquê esses corpos são ou deixam de ser eleitos padrões, modelos, e abordar o que não é dito sobre existir com essa possibilidade de corpo”, frisa.
Thiago acredita que nem sempre a dança contempla as singularidades do corpo latino, por exemplo. “Na dança temos também alguns padrões que permeiam a estrutura cristalizada que uma técnica europeia do balé ancorou no ofício.
Essa técnica é criada para corpos europeus longilíneos, magros, e não condiz com a realidade do corpo tropical, latino, então a busca do lugar onde todo corpo é um corpo possível para a dança tomou conta da minha pesquisa e profissão”, afirma.
Mesmo assim, ele assume que o corpo alto está inserido em um padrão da sociedade contemporânea. “Ainda mais quando temos uma sociedade que reverbera a relação greco-romana de tornar o ser humano à imagem dos deuses de sua respectiva época em estátuas.
Inaugurando um padrão de beleza e de estética que nos impõe que uma mulher de passarela precisa ser magra, com poucas curvas, assim como um homem precisa ser alto, viril, musculoso, com no mínimo 1,85 m para estar em uma passarela, sem contar questões de gênero, sexismo, ‘homem alto e forte impõe respeito’, mulher magra ‘é para casar’, ‘é para apresentar para os amigos’, enfim.
Vivemos em uma sociedade que reforça a cada dia esses padrões, e precisamos nos distanciar de nossas singularidades e afastar as singularidades dos outros, excluir o que for dissidente”, pontua Thiago.
O artista reforça que as perspectivas do espetáculo partem das experiências pessoais dos bailarinos, que tem 1,96 m e 1,80 m de altura.
“Esse trabalho busca lançar o olhar para aspectos da vida cotidiana poetizados por meio da cena, dança e teatro se misturam para contar um pouco da vida dos intérpretes-criadores e seu local de fala. Quais as dificuldades que o corpo alto encontra de existir, como as coisas não são projetadas para esse modelo de corpo, assim como o corpo magro e suas problemáticas”, resume.
Serviço
O trabalho pode ser conferido no Instagram e no YouTube do dançarino.
O projeto, que tem influência dos estudos de Christine Greiner publicados nos livros “O Corpo em Crise” e “Leituras do Corpo”, foi contemplado pela Lei Aldir Blanc, por meio da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e do governo do Estado.
Via Correio do Estado