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Com gravuras em carvão, artista Jonir Figueiredo retrata o Pantanal

Redação
Utilizando carvão recolhido das queimadas, Jonir Figueiredo chama atenção para degradação ambiental

Prestes a completar 70 anos de idade e 50 de carreira, o artista Jonir Figueiredo não tem nenhum medo de celebrar.

Adaptado às tecnologias, ele decidiu dar o pontapé inicial nas comemorações com a mostra “Pássaros Prô Pantanal”, que reúne gravuras feitas com o carvão recolhido após os incêndios que atingiram a região em 2020.

Para ele, a mostra traz a “metamorfose pós-queimada, do negro carvão… que sobrou… Renasce linhas, traços, pingos, formas… vão compondo o pássaro. Cada um com seu movimento e graça, plumagens com S.O.S pássaros prô Pantanal”, diz o artista no material de divulgação.

Em entrevista ao Correio do Estado, Jonir explica que a ideia era realizar um lançamento presencial, mas, por conta do avanço da Covid-19, o contato físico precisou ser adiado.

Agora, a exposição, que tem investimento da Lei Aldir Blanc, está disponível no YouTube, em um vídeo que traz imagens do Pantanal sul-mato-grossense, das queimadas e da obra do artista.

“Para mim, essa exposição é importante por ser um dos primeiros eventos que eu vou fazer para celebrar os 70 anos de idade e os 50 de carreira. Foi justamente no mês de agosto que eu fiz a minha estreia, tinha 19 anos quando a minha arte saiu de casa pela primeira vez, foi meu debut. Não é qualquer um que faz isso, nesse curral iluminado, onde a cultura é de boi e de soja”, acredita o artista plástico.

Segundo ele, Maria da Glória Sá Rosa, escritora e professora que faleceu em 2016 em Campo Grande, sempre o definiu como um artista completo, incansável. Para Jonir, de certa forma, a pesquisadora estava certa.

“Nunca parei. Além de organizar as minhas exposições, organizava as exposições de outros colegas”, pontua.

Meio ambiente

Jonir Figueiredo nasceu em Corumbá, e a proximidade com o Pantanal sempre influenciou a sua arte.

A temática pantaneira está presente em diversas técnicas, e o artista já foi premiado em salões de arte em Mato Grosso do Sul e no Brasil.

Expôs seus trabalhos pelo mundo, como no Mercosul, no Japão, em cinco cidades da antiga União Soviética, na Europa e na ONU, em Nova York.

“Eu fui para Corumbá após as queimadas e voltei triste, porque nasci e cresci em Corumbá, subia o Rio Paraguai e desembocava no Rio São Lourenço. Meus avós maternos moravam já perto de Poconé. Eram dois dias de lancha e voltava de avião teco-teco, ia parando de fazenda em fazenda e levava umas três horas de voo, porque no caminho pega remédio, entrega, leva ovo e fruta para a cidade. Ou eu ia de aviãozinho e voltava de barco, essa foi a minha infância”, descreve.

Segundo o artista plástico, das várias fases de sua carreira, todas sempre estiveram ligadas ao meio ambiente e ao que viu durante a infância percorrendo o Pantanal.

“Porque é minha inspiração, eu vou fazer o quê? Pintar neve ou montanha nevada ou fazer girassol da Rússia não tem nada a ver comigo”, brinca.

As obras são, na verdade, de fundo branco e traço preto, mas para a exposição ganharam um contorno de negativo, com o fundo escuro e as linhas brancas.

“É como um negativo, como se fosse a noite”, exemplifica. Segundo Jonir, os desenhos saíram em poucos dias. “Eu fiz 100 desenhos de uma vez. Fico em casa, não saio. Os grandes têm 68 cm x 48 cm e ainda tem gravuras menores”, pontua.

Os desenhos buscam a leveza dos pássaros.

“Eu faço movimentos como se eles estivessem limpando a água, eu falo que é como se fossem bailarinos. São pássaros do meu imaginário, eu não quis fazer outros animais porque os pássaros sofreram muito com as queimadas. Bicho de chão corre, os pássaros nem sempre conseguem escapar. Os grandes ninhais foram prejudicados”, frisa.

A exposição integra a Semana do Meio Ambiente, celebrada de 5 a 9 de junho.

Via Correio do Estado

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