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Em tempo de delicadeza, Regina Casé retorna ao vídeo em “Amor de Mãe”

Redação
O retorno das gravações aconteceu dentro do protocolo de segurança no combate à Covid-19

Quando “Amor de Mãe” estreou, Regina Casé estava há quase 20 anos longe das novelas.

O aguardado retorno, no entanto, não durou muito tempo.

Após quase quatro meses no ar, os trabalhos foram paralisados em virtude da pandemia de Covid-19.

A pausa nas gravações apresentou uma nova dimensão e rotina de trabalho para intérprete de Lurdes.

Após cerca de seis meses longe dos estúdios, a atriz de 67 anos precisou aprender como lidar com uma realidade tão imediata e urgente diante e por trás das câmeras.

“Foi um grande acontecimento. Claro, era muito melhor que não tivesse acontecido. Tivemos de levar toda essa realidade para a ficção. Foi uma oportunidade única e rara. Fizemos algo demasiadamente humano. Não foi como inserir uma música ou uma piada da moda. Era algo mais delicado”, afirma Regina, que está feliz de retornar aos folhetins.

“A novela é um gênero lindo brasileiro. Acho que nossas novelas não têm nada a ver com as novelas mexicanas ou turcas”, completa.

Na história assinada por Manuela Dias, Lurdes é natural de Malaquitas, cidade fictícia no Rio Grande do Norte.

Há 26 anos, enquanto a personagem estava na maternidade em trabalho de parto, seu marido e pai das crianças, vendeu Domênico aos dois anos para uma traficante de crianças do Rio de Janeiro.

Ao descobrir o que aconteceu, ela briga com o marido, que morre no embate, e parte em busca do filho no capital carioca.

“Durante a pandemia, as pessoas me questionavam como a Lurdes iria procurar pelo filho em isolamento. Eu estava muito feliz com esse papel. Recebia um afeto enorme nas ruas, mas a pandemia me roubou esse carinho presencial. Poderia ter passado um ano ganhando beijos e abraços. Me mandavam mensagens falando para colocar a máscara para procurar o Domênico (risos)”, aponta.

P – O retorno das gravações só foi permitido quando a emissora conseguiu estabelecer um protocolo de segurança no combate à Covid-19. Como foi gravar dentro desse novo universo?

R – Me senti segura o tempo todo e muito bem cuidada. Por ser a mais velha do núcleo, via uma preocupação de todos muito grande comigo.

Mas acho que eu era a que mais me jogava, mas sem imprudência.

A Lurdes é uma personagem muito arrebatadora, eu estava com aquilo tudo guardado e não conseguia puxar o freio de mão.

O início da pandemia foi bem confuso, mas conseguimos retornar com toda segurança.

P – De que forma?

R – A Globo foi a primeira empresa a parar. Eu estava falando com alguns colegas e perguntando como seria esse movimento todo.

No domingo, recebi um telefonema do Schroeder (Carlos Henrique) avisando que iríamos parar na segunda.

A volta foi cercada de cuidados, como isolamento em hotel, testagem, máscara e tudo sendo constantemente higienizado. Uma figura foi fundamental durante as gravações.

Tínhamos uma produtora sempre atenta para guardar nossas máscaras, higienizar nossas mãos.

A gente não podia pegar em algo que ela rapidamente vinha higienizar. Virou um personagem importantíssimo dentro da família da Lurdes. Eu tive medo, claro, mas deu tudo certo.

P – Como foi retomar o trabalho de “Amor de Mãe” após quase seis meses de paralisação? 

R – Então, durante esse período de isolamento mais rígido, eu não havia saído nunca do meu sítio no Rio de Janeiro.

A primeira vez que saí foi para ir gravar. Pensei: “Não vou mais saber fazer a Lurdes. Vou chegar com um sotaque gaúcho em cena (risos)”.

Porém, foi só ajeitar os óculos, colocar a bolsinha e a toalhinha que a Lurdes veio em um instante.

Acho que essa caracterização é mágica. Coloquei e tudo veio.

E pensar que eu tive medo de criar composição para a Lurdes.

P – Por quê? 

R – Quando começamos a novela, eu fiquei com vergonha de colocar sotaque na Lurdes.

Tinha muita vergonha de composição. Perguntei a opinião da Manu (Manuela Dias) e do Silvio (de Abreu).

Eu já havia feito tantas nordestinas e viria de novo com esse sotaque? Fiquei na maior dúvida.

Mas, quando comecei a ler o texto, não teve jeito. O sotaque vinha naturalmente.

Onde estava escrito “você”, eu colocava “tu”.

Agora, três meses depois de finalizarmos as gravações, a equipe veio aqui em casa para gravar alguns “offs” das narrações do compacto da primeira fase.

Veio tudo de novo. Conseguia ler o texto de primeira. Eu mudava o texto todo de “você” para “tu”.

P – A trama de “Amor de Mãe” acabou absorvendo a pandemia do novo coronavírus. Como foi vivenciar essa realidade na ficção?

R – Quando a gente ainda estava no início de tudo, a Manuela tinha tido que não colocaria a pandemia na história.

Era um dia a dia tão duro que estávamos vivendo que era melhor não levar para a ficção.

Assim, o público descansaria a cabeça. Eu concordei.

Quando os capítulos começaram a chegar, os textos tinham a pandemia no enredo.

Eu fiquei com medo porque a Manu tinha me convencido que não seria algo bom abordar a pandemia (risos). Mas, conforme fui lendo, entendi que seria algo ótimo.

Acho que nem Vittorio De Sica nos primórdios do realismo italiano havia sido tão realista.

É algo documental. Não só marca essa época, mas também as emoções que estamos vivendo.

Acho que essa novela vai ser um pós-naturalismo.

P – Além da novela, a pandemia chegou a atravessar outros projetos profissionais? 

R – Sim. Eu tinha acabado de estrear uma peça, o meu filme com a Sandra Kogut (diretora), “Três Verões”, tinha acabado de ser lançado também.

Ficou quatro dias em cartaz em Paris. De repente, tudo foi paralisado.

Fiquei com a sensação que eu plantei e plantei e, quando fui colher, ficou tudo represado de uma hora para outra.

Por isso, quando voltei a gravar, retornei com tanta energia.

Eu queria pular, abraçar e beijar todo mundo. Tinha uma certa infantilidade até minha (risos).

P – Você já consegue fazer um balanço desse trabalho?

R – Eu acho que só posso agradecer a esse projeto incrível. A família da Lurdes virou minha família.

É clichê, mas é verdade. Sou muito grata a Manuela por esse tesouro incrível que foi a Lurdes.

Acho que essa novela veio em um momento importante do Brasil. Estamos vivendo uma era de ódio, não é polarização. É ódio saindo sem a menor vergonha de mostrar a sua cara.

Nesse projeto, conseguimos falar de amor e cuidado. Eu via muitos comentários de pessoas que não concordam comigo ou não vão com a minha cara, mas se encantavam com a história da Lurdes.

Tinha um carinho ao falar da personagem. Essa novela construiu pontes e possibilidade de diálogos.

P – Tem alguma cena que você espera rever nesse compacto da primeira fase? 

R – A cena da formatura da Camila (Jéssica Ellen) foi especial, porque me ensinou como era a relação da Lurdes com aqueles filhos.

Aquela sequência me fez encontrar a personagem. Além disso, tem a cena em que a Lurdes está procurando pelo Sandro (Humberto Carrão) e fica no meio do tiroteio.

Eu me vi dentro daqueles noticiários que a gente vê todo dia, sabe? Parecia que eu estava no “RJTV”.

Foi forte e com sentimentos violentos. Parceria quase um documentário.

Memória viva

A primeira fase de “Amor de Mãe” ficou no ar por quase quatro meses. Apesar do pouco tempo de exibição, Regina Casé conseguiu sentir a popularidade da personagem Lurdes.

Durante o Carnaval de 2020, a atriz viu a protagonista da novela das nove virar fantasia.

“Foi incrível ver o tanto de gente que se fantasiou de Lurdes e ia procurar o Domênico nos blocos. Eu recebia milhares de fotos de pessoas fantasiadas com a bolsinha, os óculos, a toalhinha e a sombrinha. Adorei. Foi muito criativo”, valoriza.

E mesmo fora do ar, Lurdes seguiu povoando a imaginação do público.

Durante o período de isolamento mais rígido, Regina recebeu inúmeras mensagens, através das redes sociais, para conscientizar a população quanto às medidas de higienização.

“A Preta Rara, uma influenciadora digital, não estava conseguindo segurar os pais em casa. Então, ela me pediu para gravar uma mensagem como Lurdes pedindo para eles ficarem em casa. Era minha função diária gravar mensagens para as pessoas usarem máscaras e evitarem sair. Falei com muitos avôs, mães e pais”, explica.

Últimas cenas

Com apenas 23 capítulos na reta final, “Amor de Mãe” focará na busca de Lurdes por Domênico.

Ela já acreditou que o havia encontrado algumas vezes e, mesmo depois de tantas frustrações, tem certeza que um dia terá o filho no seio de sua família novamente.

O que ela não imagina é que está muito perto do rapaz. Mas Thelma, papel de Adriana Esteves, já sabe. Foi ela quem criou o menino da melhor amiga, Danilo, de Chay Suede.

A vilã fará de tudo para guardar esse segredo até o último capítulo.

“A Carminha, perto da Thelma, é uma fofa. Foi bem punk essa volta. Se queriam me tirar da zona de conforto, fui para a maior zona de desconforto possível. A Lurdes encara uma barra-pesada”, desconversa.

A produção retorna com os capítulos inéditos a partir do próximo dia 15.

Prestes a encerrar essa longa jornada no horário nobre, Regina valoriza todos os percalços que envolveram o projeto nos últimos meses.

“Acho que, como todos os trabalhos que tenho feito na Globo – e isso me orgulha muito –, ‘Amor de Mãe’ é uma novela que estica a corda no sentido da inovação. É um trabalho popular, mas que traz uma linguagem nova, além de temas importantes e que normalmente não estão colocados na tela. “Amor de Mãe” faz o público rir e chorar, mas, ao mesmo tempo, faz uma reflexão importante, forte e potente”, elogia.

Instantâneas

# A última novela de Regina Casé havia sido “As Filhas da Mãe”, em 2001.

# A trama de “Amor de Mãe” marca a estreia de Regina no horário nobre.

# Com o fim das gravações, a atriz levou alguns acessórios do figurino de Lurdes para casa. “A bolsinha, a toalha e a sombrinha estão penduradas na porta lá de casa”, afirma.

# Regina é casada com o diretor Estêvão Ciavatta.

 

Via FolhaPress

 

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