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Após 20 anos, eleição na Fetems tem disputa e debate sobre salário de professores temporários

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Professores votam pela continuidade ou mudança nesta segunda-feira (2)

Pela primeira vez em duas décadas, a Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), maior entidade sindical do Centro-Oeste, vive um momento de ruptura. Nesta segunda-feira (2), cerca de 23 mil profissionais da educação pública vão às urnas para decidir entre a continuidade da atual gestão ou a busca por mudanças.

Além da histórica polarização, o maior desafio para quem assumir a presidência da Fetems será cobrar do governo estadual o cumprimento da promessa de equiparar os salários dos professores temporários aos dos efetivos. Atualmente, um docente contratado chega a ganhar quase metade do que recebe um concursado da rede estadual.

Continuidade ou mudança

De um lado está a professora Deumeires Moraes, atual vice-presidente da entidade e candidata da chapa 1, apoiada pelo presidente Jaime Teixeira e por dirigentes dos 74 sindicatos municipais filiados. Se eleita, ela se tornará a primeira mulher negra a comandar a Fetems.

“Eu estou preparada para ser a presidenta da Fetems. Minha trajetória como diretora de escola, eleita por seis mandatos pela comunidade escolar, e como professora de carreira me credencia para esse desafio. Nossa chapa reflete a diversidade da categoria e tem o compromisso de continuar defendendo as pautas históricas dos trabalhadores da educação”, afirma Deumeires.

Natural de Tupi Paulista (SP) e radicada em Dourados desde 1987, Deumeires é formada em Matemática pela UEMS e em Ciências por uma faculdade de Dracena, além de possuir pós-graduação em Gestão Escolar. Ela está na diretoria da Fetems desde 2005.

Do outro lado está o professor e advogado Joaquim Soares de Oliveira Neto, que lidera a chapa de oposição — a primeira em 20 anos na entidade. Ele sustenta um discurso de renovação e promete dar fim, segundo ele, ao uso político da Fetems.

“Nossa chapa nasceu da insatisfação com os rumos que a federação tomou. Defendemos uma Fetems transparente, inclusiva e que represente efetivamente todos os segmentos: indígenas, aposentados, administrativos, convocados e efetivos. Uma gestão que não preze pela transparência não valoriza a democracia”, afirma.

Joaquim é formado em Filosofia e Direito pela UCDB, tem concurso no Estado na disciplina de História e, no início dos anos 2000, atuou como assessor na Secretaria Estadual de Administração e coordenador de Políticas Específicas da Secretaria Estadual de Educação, na gestão do ex-governador Zeca do PT.

O desafio dos salários

Independente de quem vencer, o desafio mais urgente será pressionar o governador Eduardo Riedel (PSDB) a cumprir a promessa de campanha de equiparação salarial dos professores temporários aos efetivos. A disparidade salarial é apontada como uma das principais causas de insatisfação da categoria.

“Por ter sido também professor contratado por dez anos, conheço de perto essa realidade. Essa é uma das nossas bandeiras principais. A valorização precisa ser para todos”, reforça Joaquim.

Deumeires também coloca o tema como prioridade: “A luta pela equiparação salarial é histórica e seguirá como central na nossa pauta. Nossa experiência de articulação política e sindical nos dá condições de avançar nesse debate.”

Uma entidade com história

A Fetems, que completa 45 anos em 2025, tem papel decisivo nas principais conquistas da educação em Mato Grosso do Sul. Entre os avanços estão o piso salarial nacional, a jornada de seis horas para os administrativos e o programa Pro-Funcionário, além da eleição direta para diretores de escolas.

Fátima Silva, ex-presidente da Fetems e atual secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), lembra que a entidade conquistou para os professores efetivos um dos maiores salários do país. Ela ressalta também que, mesmo defasado, o salário dos temporários ainda está entre os melhores do Brasil.

“O que está em jogo não é apenas quem vai dirigir a Fetems, mas o futuro da nossa luta. A federação sempre foi e continuará sendo a trincheira da defesa da escola pública, gratuita e de qualidade”, defende Fátima.

Um dos fundadores da entidade, o ex-deputado e ex-secretário estadual de Educação, Antonio Carlos Biffi, reforça que a Fetems foi protagonista de grandes movimentos, como as Diretas Já, a Constituinte de 1988, as reformas da Previdência e Trabalhista, além de batalhas locais pela valorização dos trabalhadores da educação.

“A Fetems se tornou uma das maiores e mais respeitadas organizações sindicais do Brasil, com um modelo único, que une sindicatos municipais em todos os 79 municípios do Estado”, destaca Biffi.

Clima de tensão

Às vésperas da eleição, o clima ficou mais acirrado. Houve denúncias de uso de urnas de papelão e de suposta intromissão da Polícia Militar no processo. A Justiça do Trabalho chegou a ser acionada, mas rejeitou o pedido da oposição para suspensão da eleição.

O resultado das urnas desta segunda-feira vai além da escolha de uma nova direção. Reflete o desejo da categoria sobre qual caminho seguir: preservar a tradição de uma gestão consolidada ou apostar em uma mudança que promete mais transparência e inclusão.

Via Enfoque MS

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