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UFMS promove concertos com entrada gratuita neste fim de semana

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Instrumentos serão abordados por músicos de destaque no Primeiro Encontro de Piano e Música de Câmara, de quinta-feira a sábado

Apesar de uma elegia figurar como primeira composição a ser executada na noite de abertura do Primeiro Encontro de Piano e Música de Câmara, de quinta-feira a sábado, no Teatro Glauce Rocha, o clima é de festa nos bastidores do evento.

As apresentações começam sempre às 20h, com entrada franca, e reúnem músicos de destaque em seus instrumentos.

Uma elegia, por definição, é um poema ou uma peça musical triste, que tematiza o luto. Mas, no universo da música erudita, valem mais as características da composição – clima, intensidade, harmonias, melodia e suas passagens e toda a estrutura musical – do que a pegada fúnebre tomada isoladamente, de modo a valorizar, por exemplo, o rendimento de cada instrumento.

FAURÉ E SCHUMANN

Brilham, nesse caso, não somente o piano como também e o violoncelo, também conhecido apenas como cello.

“O repertório se inicia com uma elegia [a ‘Élegie’, Op. 24, de 1880] de um compositor francês chamado Gabriel Fauré [1845-1924] e segue com uma peça chamada ‘Peças de Fantasia’ [‘Fantasiestücke’, Op. 73, de 1849], que são três partes do [alemão] Robert Schumann [1810-1856]”, anuncia o violoncelista William Teixeira.

O músico estará ao lado do pianista Evandro Higa, com quem forma o Duo Fronteiras, primeira atração do evento, que abre o calendário da 17ª edição do Festival de Cinema do Vale do Ivinhema. Gilmar Iria (viola) e Murilo Barbosa (piano), na sexta-feira, e a pianista Rosana Diniz, no sábado, completam o time de atrações do Encontro.

O festival foi contemplado com R$ 243 mil do Fundo de Investimentos Culturais do governo do Estado (FIC/2020) e ainda não divulgou a sua programação de filmes e outras atividades.

O Primeiro Encontro de Piano e Música de Câmara conta ainda com a parceria do Movimento Concerto, projeto de extensão do curso de música da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

“São duas peças muito emblemáticas do romantismo, bastante dramáticas, líricas. Então, a gente começa o concerto já com essa atitude”, diz Teixeira. “Vamos focar em repertórios do romantismo europeu do século 19 e peças brasileiras do século 20 até o repertório atual”, complementa.

Compostas originalmente para piano e clarinete, as “fantasias” de Schumann, sob indicação do próprio alemão, podem ser executadas com o cello ou a viola no lugar do instrumento de sopro.

“Essa é uma formação que, na verdade, data desde a origem do próprio piano em meados, fim do século 18, quando o piano se forma a partir dos instrumentos que existiam antes, o cravo, o fortepiano”, afirma Teixeira.

“Desde Beethoven [1770-1827], nós temos a presença de sonatas para violoncelo e piano dentro do repertório dos grandes compositores da Europa e também dos compositores brasileiros do século 19 para cá. Então a gente vê Alberto Nepomuceno [1864-1920], Villa-Lobos [1887-1959], Camargo Guarnieri [1907-1993]. Todos têm peças dedicadas ao violoncelo e ao piano”, diz o violoncelista, que, como o veterano Higa, é professor da UFMS.

KIEFER E VILLA-LOBOS

Em seguida, o repertório do concerto adentra o lado brasileiro das fronteiras exploradas pelo duo. William Teixeira vai tocar “Errâncias”, uma peça dos anos 1970, para violoncelo solo, de Bruno Kiefer (1923-1987), compositor alemão que, aos 11 anos de idade, chega à Santa Catarina, com a família, fugindo do nazismo.

HIGA SOLO

“Professor Evandro vai tocar uma peça para piano solo do Villa-Lobos também [‘Impressões Seresteiras’, a segunda composição do chamado ‘Ciclo Brasileiro’, criado pelo compositor de 1936 para 1937], porque a gente tem uma ênfase especial por conta do centenário da Semana de Arte Moderna”, afirma Teixeira.

“Lembramos esse fato não apenas com essa peça de piano, mas também com uma peça do Villa-Lobos para violoncelo e piano, de antes da Semana”, pontua o músico, referindo-se à “Pequena Suíte Pequena Suite, W064”, de 1913.

“O próprio Villa-Lobos foi um violoncelista”, frisa o músico, que, além do autor das “Bachianas”, destaca outros colegas de instrumento a quem derrama elogios, a exemplo do paulista André Micheletti, do francês Xavier Gagnepain e do italiano Gaetano Nasillo.

RIPPER

O concerto de abertura do Primeiro Encontro de Piano e Música de Câmara encerra-se com um tema do carioca João Guilherme Ripper.

“É um compositor bastante importante aqui para Campo Grande por conta das relações familiares que ele possui. Ele já participou de diversos festivais aqui desde os anos 1990 e nós vamos tocar uma peça dele chamada ‘From My Window’, que tem o subtítulo ‘Gaivotas’ e traz essa paisagem musicalmente construída”, prossegue Teixeira.

RIQUEZA

“É um repertório que realmente explora muito essa riqueza da sonoridade, do potencial dramático do violoncelo. Creio que vamos representar bem esse repertório que traz esses detalhes e essas nuances do som desses instrumentos da música de concerto, que são tão importantes para a construção da nossa escuta e de uma atenção aos detalhes”, aposta.

“Eu realmente faço votos de que o público possa estar lá conosco na quinta-feira porque vai ser uma noite muito especial”, convida o violoncelista.

O Primeiro Encontro de Piano e Música de Câmara conta com a organização da maestrina Mirian Suzuki, professora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, em Dourados.

“Foi uma alegria muito grande receber esse convite para levar um pouco do nosso trabalho dentro de um festival que já tem uma programação e um apoio institucional bem importante”, finaliza o músico.

BARBOSA E IRIA

O pianista Murilo Barbosa e o violista Gilmar Iria, que também se apresentam em duo, na sexta-feira, são habilitados em seus instrumentos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Vencedor do Prêmio Jovens Músicos BDMG (2012), Barbosa é fundador da escola Clube da Música, em Belo Horizonte, e professor da escola Juliana Grassi Musicalização, ambas na capital mineira.

Gilmar Iria atua como maestro desde 2010 e, além de elogiadas composições, a exemplo do “Lamento para Viola Solo”, traz no currículo experiências como a participação no espetáculo italiano “Rifrazione di Alice”, de Francesca della Monica e Marcelo Cordeiro, apresentado na cidade de Castiglioncello, balneário da Toscana onde o cineasta Dino Risi (1916-2008) rodou “Aquele que Sabe Viver” (1962), com Vittorio Gassman e Jean-Louis Trintignant no elenco.

ROSANA DINIZ

Nome de maior trânsito internacional entre os participantes do evento, a pianista Rosana Diniz estudou no Lavignac Conservatório Musical, em Santos (SP), sua cidade natal, antes da formação (graduação, mestrado e doutorado) na Academia de Música de Lodz, na Polônia, a partir de 1990.

Rosana venceu, em 1992, o Prêmio Chopin, importante láurea polonesa, e realizou apresentações em vários países da Europa e da África como solista, camerista e recitalista.

Via Correio do Estado MS

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