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‘A tendência é essa, exoneração’, diz Bebianno sobre saída do governo

Redação

[Via Correio do Estado]

O ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) confirmou que o presidente Jair Bolsonaro pretende demiti-lo na próxima segunda-feira (18).

“A tendência é essa, exoneração”, disse neste sábado (16) a jornalistas. “Eu quero ver o papel com a exoneração, a hora em que sair o papel com a exoneração é porque eu fui exonerado”, afirmou.

Bebianno tornou-se o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha de S.Paulo revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL, partido presidido pelo ministro entre janeiro e outubro de 2018.

O ministro confirmou ainda que recusou uma oferta de assumir uma diretoria em Itaipu em troca de deixar o Palácio do Planalto. "Não foi esse meu emprego, meu projeto era eleger a pessoa que me inspirava confiança e eu achava que ia mudar os rumos do Brasil para melhor", afirmou.

Ele negou ter tido uma conversa ríspida com o presidente Bolsonaro na sexta-feira (15) e ter vazado áudios de conversas privadas com o presidente. "Não vazei nada, nunca fiz isso", disse.

Bebianno criticou a Folha de S.Paulo, que publicou uma série de reportagens revelando um esquema de candidaturas laranjas do PSL com uso de recursos públicos eleitorais. Ata de reunião do partido delegou a Bebianno a responsabilidade pelos repasses dessa verba a esses candidatos.

"Se for provado algo contrário a responsabilidade não é minha, não é da nacional, isso não existe. Simplesmente a Folha de S.Paulo tenta forçar, induzir essa coisa, mas não é verdade. Simplesmente a Folha de S.Paulo consegue atingir a honra de uma pessoa de bem porque na política a gente sabe como as coisas funcionaram até aqui. Então a política é muito mal vista", disse Bebianno.

"A minha consciência está absolutamente tranquila e limpa, a Folha de S.Paulo publicou tentando me vincular, não tem nada a ver comigo, isso é a lei, o estatuto do partido, é o bom senso", ressaltou.

Sem citar Bolsonaro, Bebianno publicou na madrugada mensagem em rede social dizendo que "a lealdade é um gesto bonito das boas amizades". "Uma pessoa leal sempre será leal. Já o desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça", diz trecho da íntegra da mensagem, atribuída por ele ao escritor brasileiro Edgard Abbehusen.

A postagem ocorreu após a divulgação de que o presidente decidiu demitir o ministro.

Na sexta, segundo a Folha de S.Paulo, Bolsonaro avisou Bebianno e outros ministros que a exoneração será publicada na segunda-feira.

Na manhã deste sábado (16), o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) esteve no Palácio do Alvorada para discutir o assunto com o presidente.

"Continuamos conversando, o presidente está refletindo e segunda-feira devemos ter solução", disse o ministro.

Bebianno disse que não mudou seu pensamento sobre Bolsonaro. "Continuo tendo o mesmo carinho pelo presidente. Não mudou nada para mim em termos, eu continuo gostando dele da mesma maneira, trabalhei dois anos para eleger, fiz o que pude, fiz além do que qualquer ser humano normal faria. É um direito que ele tem exonerar quem ele quiser, é um governo dele", afirmou.

Segundo ele, Bolsonaro "precisa de um tempo para ele depurar na cabeça dele e ele colocar na balança o que ele quer fazer, só isso". "Ele é um ser humano como outro qualquer", disse.

Onyx Lorenzoni liderou o movimento de ministros que tentou garantir a permanência de Bebianno. No fim da tarde, porém, o clima azedou de vez após uma reunião entre Bolsonaro.

Em seguida, o SBT Brasil, a quem Bolsonaro deu recentes entrevistas exclusivas, anunciou que o presidente decidira pela exoneração do auxiliar.

A temperatura da crise subiu na quarta-feira (13), quando Carlos, o filho que cuida da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas.

Mais tarde, no mesmo dia, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente se recusa a conversar com Bebianno.

Bolsonaro, que seguia para Brasília depois de passar 17 dias internado em São Paulo após cirurgia para reconstruir o trânsito intestinal, endossou a atitude do filho -e o fez publicamente, repostando a acusação de Carlos e dizendo em entrevista à TV Record que não havia conversado com o ministro.

Na mesma entrevista à Record, o presidente disse ter determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estivesse envolvido, "o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens", ou seja, deixar o governo.

A gota-d'água para a demissão, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja.

No domingo (10), reportagem da Folha de S.Paulo revelou que o grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O dinheiro foi liberado por Bebianno, que presidia o partido na ocasião.

Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann (SP), essa com 1,079 milhão de votos.

O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Na época, o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Bolsonaro, com foco em discurso de ética e combate à corrupção.

Essa candidatura laranja virou alvo da Procuradoria, Polícia Civil e Polícia Federal.

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