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Sonambulismo é distúrbio incômodo

Redação

[Via Correio do Estado]

Envolto em certo mistério e desconhecimento, o sonambulismo é um distúrbio do sono muito comum em crianças e adolescentes. É incômodo, pode durar de 5 a 30 minutos  e precisa de acompanhamento médico. Segundo a presidente da Associação Brasileira do Sono, a médica neurologista Andrea Bacelar, 10% das crianças e adolescentes podem ser adultos sonâmbulos.

Aproximadamente 80% das pessoas com sonambulismo possuem um familiar com sonambulismo ou terrores noturnos. Uma criança com pais com história de episódios de sonambulismo possui 60% de chances de ter os mesmos episódios.

Segundo a médica, o distúrbio caracteriza-se como uma parassonia. “Nada mais é do que a alteração do comportamento durante o sono. Ele se enquadra no comportamento do indivíduo que se movimenta, abre os olhos, por exemplo. Que pode ter movimentos simples [sentar e deitar] até os mais elaborados, como  caminhar, abrir a porta, descer uma escada e até dirigir”, explica.

Este distúrbio do sono se processa com a intrusão de uma atividade cerebral semelhante à da vigília ao estar acordado numa fase profunda do sono. “Há, simultaneamente, uma atividade do cérebro que pode diminuir em sono profundo com entradas de atividades rápidas compatível com vigília. Por este motivo, a pessoa consegue andar e ter os órgãos do sentido presentes – como pegar uma comida na geladeira, por exemplo – mas, por outro lado, ele tem amnésia de todo o evento”.

Andrea Bacelar explica que os episódios podem ser desencadeados por fatores como privação frequente de sono, estado febril ou muito estímulo durante o dia. “Como naquele dia agitado, no qual a criança experimenta várias emoções. Num dia de festa, por exemplo. Nesta noite, a probabilidade de ter um evento de sonambulismo é mais forte”.

SUSTO

Quando tinha 16 anos, a então estudante Regina Maria Oliveira, de Campo Grande, teve um episódio de sonambulismo um tanto traumático. “Foi após a morte do meu pai, que teve infarto fulminante ao meu lado. Foram dias muito difíceis e, numa certa noite, eu, que morava num sobrado, levantei da cama, segui pelo corredor e fui em direção à escada. Estava sozinha e rolei degraus abaixo. O impacto com o solo foi grande e perdi os dois dentes da frente, precisando colocar próteses”. A estudante explicou que, numa consulta, o médico definiu como sendo um episódio de sonambulismo, que depois se repetiu com menos frequência e gravidade, até desaparecer por completo.

“Este foi um caso peculiar, uma exceção. O trauma não é um gatilho para desenvolver sonambulismo. Provavelmente já existia a predisposição genética”, esclarece Andrea Bacelar.

Cada caso de sonambulismo tem seu tratamento próprio, mas todos começam com o esclarecimento da família sobre o que é o transtorno. “É preciso também diferenciar de outros diagnósticos, como crises que acontecem durante o sono e que também apresentam automatismos complexos. Temos de avaliar outras questões mentais na esfera psicológica que possam ter gerado este comprometimento. O que foi medo, sonambulismo ou pesadelo”.

A médica explica que o sonambulismo gera acidentes por conta do evento, mas que ele não tende a ser algo extremamente grave. “Quando há eventos graves – que são raros –, temos de pensar em outra paranoia de status dissociativa,  mais violenta e mais rara”.

MITO

O mito de não poder acordar um sonâmbulo é exatamente isso, esclarece a médica, apenas um mito. “Não há grandes problemas em despertar um sonâmbulo. Porém, quanto maior for o estímulo para ele sair do sono profundo para a vigília, mais tempo ele ficará neste processo. O ideal é não estimular. Não é contraindicado acordar, ele não terá prejuízo, mas o ato do sonambulismo vai aumentar”, esclarece a neurologista.

No dia seguinte, habitualmente, as pessoas com este distúrbio não se lembram do que fizeram, não guardam memória daquilo, mesmo sendo atividades complexas.

TRATAMENTO

Andrea Bacelar explica que, a princípio, não se trata especificamente o sonambulismo. “É feito o diagnóstico diferencial para verificar se é uma parassonia. Avaliamos se a frequência dos episódios é elevada, recorrente, ou não, se vai gerar chances de acidentes maiores”.  Segundo ela, alguns tipos de sonambulismo são tratados com medicamentos quando as chances de acidentes são grandes. Mas, em geral, desaparecem com o tempo. “Muito mais do que isso, é tranquilizar os familiares, orientá-los a tomar medidas de contenção: colocar telas, usar chaves, promover atos ambientais que promovam o bem-estar do paciente. No mais, é ter vida regrada, procurar dormir no mesmo horário e não ficar perdendo o sono”.

Falar enquanto está dormindo não é sonambulismo. A isso, segundo Andrea Bacelar, dá-se o nome de soníloquo. “É mais comum do que se imagina falar enquanto dorme. Também é um tipo de parassonia. É benigna e muito frequente na infância – sua ocorrência diminui na idade adulta. É uma alteração de comportamento à noite, provocada por um terror noturno [aquela criança que entra em pânico, sua, chora]. Mas um tipo pode migrar para o outro”.

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