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‘Quem quer se vacina, e quem não quer não se vacina?’ Entenda por que essa escolha não é individual

Redação

Vacinação só irá diminuir os impactos do coronavírus se for pensada de forma coletiva. A médio prazo, para desafogar os hospitais e os leitos; a longo prazo, para trazer a imunidade de rebanho.

Por envolver uma atitude individual, em que cada pessoa vai até o posto de saúde, à primeira vista pode parecer que a vacinação é algo totalmente pessoal, na linha do “toma vacina quem quer”. Mas não é bem assim: segundo especialistas ouvidosa vacinação é um ato de proteção coletiva.

” É importante a gente salientar por que a gente procura a alta cobertura vacinal no nosso PNI [Plano Nacional de Imunização]: quando atinge um certo percentual para cada vacina e situação, você está visando não só a proteção individual, mas a proteção coletiva”, aponta Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

A perspectiva, de acordo com os especialistas entrevistados pelo G1, é que quanto mais gente se vacinar logo no início, menos gente terá a versão grave e, assim, será mais fácil de tratar nos hospitais eventuais pessoas que ainda não receberam suas doses.

Em dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a vacinação deve ser obrigatória, mas que isso não significa vacinar alguém contra a sua vontade, de forma forçada. A Corte autorizou que sejam impostas medidas restritivas para quem não se vacinar, como perda do direito a receber benefícios do governo ou impedimento de fazer viagens internacionais.

STF também negou que autorização para que pais deixem de vacinar os filhos pelo calendário oficial em razão de crenças pessoais. As vacinas para Covid-19 disponíveis no Brasil até agora, no entanto, não têm autorização para vacinação de menores de 18 anos.

Principais objetivos da vacina

Além de proteger o indivíduo imunizado, a vacina contra a Covid-19 tem dois objetivos principais com importantes reflexos na coletividade:

  • desafogar o sistema de saúde sobrecarregado, garantindo que não faltem vagas
  • reduzir a capacidade de disseminação da doença

Desafogar o sistema

O papel a médio prazo para os primeiros grupos a serem vacinados – no Brasil, serão 3 fases, incluindo profissionais de saúde, indígenas, quilombolas, idosos, pessoas com comorbidades, entre outros – é desafogar um sistema que já voltou a lotar. Exemplo disso é o colapso dos hospitais de Manaus na última quinta-feira (14), quando pacientes com Covid-19 ficaram sem oxigênio.

Segundo Domingos Alves, pesquisador da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, a taxa de eficácia das vacinas é satisfatória, mas, mais que isso, é muito alta quando se trata de proteger contra casos mais graves. E são esses pacientes que lotam as unidades de saúde.

“As vacinas que temos aqui no Brasil, elas têm essa característica: vão reduzir sensivelmente a possibilidade de internação de casos graves, e então vamos diminuir a necessidade de atenção médica. Ou seja, vai virar, finalmente, uma ‘gripezinha’.”, disse o pesquisador.

No caso da CoronaVac, uma das vacinas em aplicação no país, Alves explica que o grupo que recebeu a vacina, em comparação com o que não recebeu durante os estudos, não apresentou casos graves da Covid-19. O Instituto Butantan mostra que a grande maioria dos vacinados (92%) apresentaram apenas a versão muito leve da doença, sem precisar ir ao médico.

Eficácia da CoronaVac — Foto: G1

Eficácia da CoronaVac — Foto: G1

Como as vacinas não garantem que o paciente não terá Covid-19 novamente, apenas diminuem a chance de infecção e também a gravidade da doença em relação às pessoas que não receberam, o uso da máscara ainda será fundamental, assim como o isolamento.

“Nenhuma vacina é 100% eficaz. Você só consegue maior proteção quando a maior parte da população se vacina, porque quando tem muita gente vacinando, o vírus diminui a circulação e, então, acaba protegendo também quem não está vacinado. Por isso que não é ‘toma quem quer'”, explica Denise Garret, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas.

Imunidade de rebanho

Ainda é difícil de definir o prazo para atingir a imunidade de rebanho contra a Covid-19 – quando a cobertura vacinal atinge um índice que começa a frear a transmissão para quem ainda não foi imunizado. Um dos motivos é a falta de definição de qual será a quantidade de doses disponíveis por mês no Brasil, além de uma certa incerteza dos cientistas com relação à porcentagem da população que é necessária para barrar a transmissão.

Por enquanto, o governo federal prevê mais de 340 milhões de doses das duas principais vacinas, a CoronaVac, da Sinovac, e a ChAdOx1, da Universidade de Oxford em parceria com AstraZeneca. O ministro da saúde, Eduardo Pazuello, chegou a cogitar a aplicação de apenas uma dose na população para ampliar a margem de vacinados. Há, ainda, a chance de uma produção maior caso o Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz tenham acesso a mais insumos e, no caso dos estados, material para aplicação, como as seringas.

Com todas essas dúvidas, fica difícil determinar uma data final da campanha, quando todos – ou quase todos – os integrantes do grupo de risco estarão vacinados. Esse seria o momento em que chegaremos à imunidade de rebanho.

“Individualmente, estou oferecendo uma proteção para cada pessoa, mas a coletividade se beneficia se tiver um número elevado de pessoas se vacinando e chegando mais perto da imunidade de rebanho”, explica Juarez Cunha.

Independente dessas indefinições, não é possível chegar ao índice mínimo da imunidade de rebanho sem o apoio da população, a consciência coletiva da vacinação. As pesquisas falam em taxas que variam de 60% a 80%, mesmo número citado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em suas reuniões, e também por Anthony S. Fauci, um dos principais integrantes da força-tarefa criadas pelos Estados Unidos para responder à pandemia.

A pergunta é: quanto tempo será necessário para atingir 60% a 80% da população? Os pesquisadores ainda estão tentando determinar, mas acreditam que não será em 2021. Independente disso, só será possível chegar lá se as pessoas aceitarem se vacinar. Receber uma dose é chegar mais perto da taxa que vai reduzir a transmissão para toda a população.

Via G1

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