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Parceiro de Cabeça Branca, filho envolveu pai prometendo ganhos milionários

Redação

[Via Correio do Estado]

A Polícia Federal de Curitiba (PR) revelou, na tarde desta terça-feira (15), que Hamilton Brandão Lima e seu pai, Pedro Araújo Mendes Lima, foram os dois presos pela Operação Efeito Dominó em Mato Grosso do Sul.

Naturais de Guarantã do Norte, no Mato Grosso, onde trabalhavam com revenda de maquinário agrícola, ambos estão há mais de cinco anos no Estado, após assumirem operações para lavagem de dinheiro de Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes da América do Sul.

Conforme o Portal Correio do Estado apurou, a administração das funções financeiras de Cabeça Branca e o rendimento gerado eram tão lucrativos que Hamilton era a pessoa mais próxima do megatraficante, mesmo depois de preso, com ligação direta.

Segundo a PF, Pedro, a princípio, seria até vítima do próprio filho, que o usou como laranja do megatraficante. Após descobrir a fraude, contudo, ao invés de meramente denunciar, aliou-se a Hamilton, com as promessas de ganhos milionários que depois de cinco anos se mostraram verdadeiros. "No começo, Pedro apenas esfriava o dinheiro do tráfico. Depois, se aliou de vez ao filho", completou.

"Assim que o cerco contra Rocha começou a apertar, pai e filho foram para Mato Grosso do Sul e Paraná, intensificaram a compra de propriedades rurais, plantações de graãos e criação de gado", disse o delegado da PF Igor Romário de Paula, um dos responsáveis pela operação.

Sempre sob as ordens de Cabeça Branca, a família arranjava laranjas que forneciam nomes para as transações. A Polícia Federal vai investigar com documentos e computadores apreendidos nos imóveis se parte do dinheiro arrecadado no Estado foi usado para financiar campanhas políticas e realizar a troca de dólares por reais, conforme mostrou interligação desta operação com a Lava-Jato.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Pedro e Hamilton para comentar o caso.

HISTÓRICO

De acordo com a PF, um dos mandados de busca e apreensão e prisão foi cumprido na Capital sul-mato-grossense, contra o filho, no condomínio de luxo Set Village, localizado na região da Vila Nasser. A outra prisão, do pai, ocorreu em imóvel na Rua Geni Ferreira Milan, nas imediações da Usina velha, em Dourados. Por conta do caráter sigiloso da operação, a polícia não revelou as identidades dos investigados, a fim de não comprometer desdobramentos da operação.

Também foi cumprido mandado de busca e apreensão em fazenda na cidade de Amambai, em nome do pai. Lá foi encontrada uma arma de fogo com calibre de uso restrito. A PF detalhou que a dupla é natural do Mato Grosso, mas veio para Mato Grosso do Sul à pressas, como forma de driblar as investigações, depois que o chefe da quadrilha foi preso no ano passado, no Paraná, durante a Operação Spectrum. Em território sul-mato-grossense, eles administravam fazendas do traficante no Mato Grosso, perto da fronteira com a Bolívia. As propriedades eram usadas como depósitos e entreposto do tráfico.

NÚCLEO DOS DOLEIROS

Considerado pela polícia como "executivo do crime organizado", Cabeça Branca operava de forma sistemática, com procedimentos e padrões pré-definidos. Por exemplo, ele tinha pouco contato com seus aliados e só falava com aqueles de maior importância na escala hierárquica da organização, tanto que dividia seus parceiros em dois setores principais: o da lavagem de dinheiro, operado pelos sul-mato-grossenses e o do grupo dos doleiros.

Entre os doleiros estava Carlos Alexandre, o Ceará, delator da Lava Jato que informou à justiça série de pagamentos de propina e esquemas de corrupção. Mesmo tendo firmado acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), posteriormente homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ele continuava com suas operações ilegais. "Indícios apontam que ele e o traficante cooperavam mutuamente pelo menos desde 2016", pontuou o delegado Roberto.

Junto com Ceará também participavam outros dois doleiros, os maleiros, que faziam o transporte dos valores em espécie, e os laranjas. Tal esquema era importante para os dois lados. Os doleiros tinham a necessidade de grande volume de reais em espécie para o pagamento de propinas. Por sua vez, o traficante tinha disponibilidade de recursos em moeda nacional e precisava de dólares para efetuar as transações com fornecedores de cocaína.

PARCERIA

A troca de serviços era parte importante do processo já que o dinheiro em espécie não deixa rastros e dificulta a investigação. "Temos uma lista com mais de 200 nomes de pessoas físicas e pessoas jurídicas envolvidas com o grupo e que serão investigadas. As que identificamos, conseguimos fazer a ligação com dificuldade, por conta do modo de agir deles", pontuou Roberto.

A suspeita é de que Ceará tenha movimentado aproximadamente 140 milhões de dólares. Ele não trabalhava apenas com traficantes. A PF suspeita que quantia significativa do dinheiro sujo era entregue a políticos corruptos investigados na Lava a Jato. Cabeça Branca, por sua vez, também operava cifras milionárias com o envio de cocaína para a Europa. Em grandes centros do velho continente, o quilo da droga vale de 20 mil a 40 mil euros.

OPERAÇÃO

A Operação Efeito Dominó é desdobramento da Operação Spectrum, deflagrada pela PF ano passado. A ação mirou alvos em Campo Grande e Dourados, onde houveram prisões, além de Amambai, bem como em outras oito cidades nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Paraíba, Distrito Federal e São Paulo. Ao todo, 90 policiais foram às ruas cumprir 18 mandados de busca e apreensão, cinco de prisão preventiva e três de prisão temporária. Foram apreendidos dinheiro, veículos, arma de fogo e documentos.

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