Indicado de Temer para Cidades foi aliado de Cachoeira, diz relatório
[Via Correio do Estado]
Com base em gravações telefônicas da Polícia Federal feitas na Operação Monte Carlo, Baldy é protagonista de um capítulo do relatório final da CPI que em 2012 investigou o caso, sendo classificado como colaborador "da organização criminosa".
O texto é assinado pelo petista Odair Cunha (MG), que relatou os trabalhos da comissão durante oito meses. No final, um acordão entre legendas atingidas acabou levando à rejeição do parecer no plenário da comissão e à aprovação de um relatório de duas páginas que não sugeriu o indiciamento de ninguém.
"As investigações levadas a efeito pela Polícia Federal, e aprofundadas por essa CPI revelam que Alexandre Baldy, conquanto não tenha agido com a mesma desenvoltura com que atuaram outros secretários do Estado de Goiás em prol dos interesses da organização criminosa chefiada por Carlos Cachoeira, prestou relevantes serviços à quadrilha", diz o relatório final de Odair Cunha.
Entre 2011 e 2013, o hoje deputado foi secretário de Indústria e Comércio do governo de Goiás, comandado pelo tucano Marconi Perillo.
Temer informou a correligionários ter decido colocar o deputado no lugar do tucano Bruno Araújo, que pediu demissão. Baldy irá trocar o Podemos pelo PP, a maior sigla do centrão. Deputado federal de primeiro mandato, ele é hoje um dos principais aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A CPI do Cachoeira, como ficou conhecida, trabalhou em meio ao escândalo que resultou na cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
O capítulo dedicado a Baldy é recheado de grampos de conversas de Cachoeira com aliados, cujo teor sugere proximidade dos dois -Cachoeira se referia a Baldy como "menino de ouro", diz o texto.
Uma dessas interceptações é de uma conversa direta entre Baldy e Cachoeira, em agosto de 2011. "Cadê você, doutor?", pergunta em tom informal Baldy. Os dois marcam então um encontro para o dia seguinte. Cachoeira afirma que irá tratar de um assunto com o secretário. Baldy concorda e diz: "E eu preciso falar um negócio com você pra você dar uma aliviada".
O relatório de Odair afirma que embora houvesse suspeita de que Baldy recebesse recursos periódicos de Cachoeira, a investigação da comissão não conseguiu provas disso, sugerindo ao Ministério Público continuar a apuração. A reportagem não localizou eventuais desdobramentos judiciais das investigações.
Como o relatório final de Odair não foi aprovado, nenhuma recomendação foi enviada às autoridades.
Baldy também foi citado na delação premiada do corretor de valores Lúcio Funaro. Ele afirma que o deputado participou de negociações para favorecer a Hypermarcas no Congresso. Baldy é casado com uma ex-integrante do bloco de controle da empresa.
OUTRO LADO
Procurado neste domingo (19), o deputado Alexandre Baldy não quis se manifestar.
Em maio de 2016, o parlamentar disse ao jornal Folha de S.Paulo que o seu nome não consta no relatório final de duas páginas aprovado pela CPI do Cachoeira e que não há contra ele investigação. Na ocasião, destacou que não tinha relação com Carlos Cachoeira e disse que o texto do relator, Odair Cunha, não passava de "ilações".
"Não tenho envolvimento nenhum com ele [Cachoeira]. Aquela CPI funcionou exclusivamente como vingança do PT contra o governador de Goiás, Marconi Perillo [PSDB]". Segundo ele, as gravações em que seu nome é citado são frutos de "montagem".
Sobre as citações feitas por Lúcio Funaro em sua delação, Baldy disse por meio de nota, quando o caso se tornou público, que nunca esteve com ele e jamais participou de reunião em sua presença.
Ele afirmou que não praticou tráfico de influência e tampouco atuou em favor da Hypermarcas.