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Eleição em Mato Grosso do Sul tem Judiciário como protagonista

Redação

[Via Correio do Estado]

Um dos candidatos é um juiz federal aposentado. O outro foi alvo de investigação em meio à campanha. E um terceiro, que quase concorreu, acabou preso antes.

Essa é a eleição para o governo de Mato Grosso do Sul, que, quatro anos atrás, foi uma das mais caras do país -e, agora, tem no Judiciário um de seus protagonistas.

Neste segundo turno, se enfrentam o juiz aposentado Odilon de Oliveira (PDT) e o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB).

Odilon, 69, fez fama com o combate ao crime organizado na fronteira com o Paraguai. Ameaçado de morte após mandar prender traficantes como Fernandinho Beira-Mar, dormia no fórum e ganhou proteção policial. Virou tema de filme e se aposentou no ano passado, já com planos políticos.

Nesta eleição, ele diz representar a moralização da política, e promete auditorias e um "estado livre da corrupção".

"Passei a vida inteira combatendo a criminalidade", afirma, em sua propaganda eleitoral, que mostra um eleitor pedindo "ao menos uma meia dúzia de Odilon, para mandar essa cambada pra cadeia".

Além de se beneficiar da onda de rejeição a políticos tradicionais e do clamor anticorrupção, ele "aproveitou um vácuo à esquerda e outro à direita para crescer" no cenário estadual, segundo o cientista político Daniel Miranda, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

À esquerda, o flanco foi aberto com a queda do ex-senador petista Delcídio do Amaral, preso na Lava Jato e hoje delator. À direita, houve a prisão do ex-governador André Puccinelli (MDB), o terceiro personagem da história, que era favorito para a disputa, mas foi detido em 2017 sob suspeita de desvios milionários em contratos estaduais.

O juiz aposentado, filiado a um partido associado à esquerda, mas defensor de valores conservadores, acabou representando "um casamento esquisito", segundo Miranda, mas que ganhou adeptos entre o eleitorado. "No fim das contas, o eleitor vota no candidato, no que ele representa", comenta o professor.

Foi um novo movimento da Justiça que levou o ex-juiz a cavar uma vaga no segundo turno: uma investigação contra Azambuja.

O governador, 55, tinha a expectativa de se reeleger em primeiro turno. De estilo conciliador e imagem de bom gestor, tem 46% de aprovação, segundo o Ibope, e o apoio de prefeitos pelo interior.

No meio da campanha, porém, o tucano foi alvo de uma operação da Polícia Federal, que apurava o pagamento de propina pela JBS, em troca de benefícios fiscais. Sua casa foi alvo de buscas e seu filho, detido temporariamente para depor.

Azambuja acusou a investigação de ser "midiática", e negou as suspeitas. Mas sentiu o golpe. Acabou indo ao segundo turno, ainda em primeiro lugar, com 44% dos votos, contra 31% de Odilon.

A pauta anticorrupção veio com mais força agora. Odilon diz que "o eleitor é o juiz". "Tem candidato que finge que é honesto, mas essa mentira não cola mais", afirma sua propaganda.

O estreante, porém, sofreu um revés na última semana: seu filho e coordenador de campanha, Odilon Júnior, fez uma visita a Puccinelli, na prisão -supostamente para sacramentar a aliança do MDB com o PDT no segundo turno.

A campanha do juiz nega que a visita tenha sido motivada por interesses eleitorais, e diz que Odilonzinho visitava o filho de Puccinelli, preso na mesma cela. Mas precisa lidar com esse desconforto na reta final.

Azambuja, por sua vez, colou sua imagem à do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), que gravou um depoimento em seu apoio e fez 55% dos votos do estado no primeiro turno. Pesquisa do Ibope, divulgada na sexta (19), mostrou o tucano à frente, com 53% dos votos válidos, ante 47% de Odilon.

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