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Economia

Dólar bate R$ 4,10, puxa alta na soja, mas eleva custo agrícola

Redação

[Via Correio do Estado]

Os produtores agropecuários vão sentir a conta salgada dos desencontros nas discussões sobre a reforma da Previdência. Os percalços das negociações no Congresso provocam desconfianças no mercado, que são refletidas na economia. Uma das dificuldades recai sobre o câmbio, que fechou em alta de 1,62%, a R$ 4,102 na venda. É o maior valor em oito meses, desde 19 de setembro, quando a moeda oscilava em meio às eleições presidenciais do ano passado.

A primeira impressão é de que esse cenário favorece o produtor. No entanto, em Mato Grosso do Sul, por exemplo, a maior parte da soja foi vendida antecipadamente e esta disparada deve mesmo é pressionar os custos de produção. A evolução do dólar vai afetar, e muito, os custos agrícolas. O produtor ainda terá gastos com a safrinha e começa a preparar a safra 2019/20 de soja.

Após entrar no quinto mês do ano com as negociações do grão em compasso de espera, em função do mercado travado e de preços ainda pouco vantajosos em relação à safra do ano passado, o produtor sul-mato-grossense encerra a terceira semana deste mês de maio com valorização de 8% no valor da saca da soja, em decorrência da disparada do dólar, que fechou ontem a R$ 4,10, o maior patamar de fechamento desde 19 de setembro do ano passado.

De acordo com informações do consultor da Bolsa de Mercadorias & Futuros, João Pedro Cuthi Dias, o valor pago ao sojicultor pela saca do produto aumentou de R$ 5 a R$ 6 nesta semana e passou das médias de R$ 62 a R$ 63 (negociadas nas praças de Ponta Porã e Dourados) para o valor de R$ 68.

Ele destaca que a elevação da moeda norte-americana favorece as culturas de exportação e, no caso da soja, 70% do grão produzido no Brasil vai para o exterior. Apesar da expectativa positiva para comercialização, ele orienta o produtor que é hora de acompanhar com cuidado esse cenário e vender a produção aos poucos, conforme a oportunidade.

“No ano passado, a soja alcançou preços excepcionais, em função do prêmio pago no porto e da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Nesse momento, o valor está mais baixo, em torno de US$ 18 a saca no porto, em função do câmbio e também do aumento no mercado internacional”, alertou.

No caso do milho segunda safra, a situação difere, já que 30% da produção brasileira do cereal vai para exportação e o valor deste produto é “relativamente barato, de US$ 10 a US$ 10,20”. “[A alta do dólar] impacta sim, mas o principal é que ‘acorda’ o mercado. As empresas passam a buscar o produto, há uma transferência [movimentação por causa do aumento na cotação da moeda norte-americana]. Portanto, há um impacto positivo nos preços”, avalia.

MERCADO INTERNO

Entre os dias 6 e 13 deste mês, o preço médio da saca de 60 quilos de soja no Estado apresentou valorização e saiu de R$ 62,25 para R$ 63, de acordo com dados divulgados pela Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul). Apesar do desempenho semanal positivo, no comparativo com o mesmo mês do ano passado, o preço da oleaginosa acumula retração de 13,75% (em maio de 2018, a saca era cotada, em média, a R$ 73,43).

Conforme boletim da Famasul, as elevações observadas no mercado interno refletem os prêmios que se valorizaram após o impasse comercial entre Estados Unidos e China terem se intensificado, aliado à crescente alta da moeda norte-americana.

Quanto ao mercado futuro, o foco do mercado internacional também está no impasse comercial entre chineses e americanos. As cotações na Bolsa de Chicago refletem os estoques norte-americanos recorde, além da redução da demanda por soja pela China.

OUTROS IMPACTOS

Se nas exportações brasileiras e sul-mato-grossenses a perspectiva é de efeitos positivos, o aumento do dólar deve impactar em médio prazo sobre o custo de produção e o consultor Cuthi Dias projeta alta principalmente nos produtos que são importados, como adubos e defensivos agrícolas, que correspondem a 30%, aproximadamente, do custo de produção. “Embora esse repasse não seja integral, parte vai ser transferida para o custo total de produção”, esclarece.

Além de insumos, também há expectativa de aumento nos preços de produtos como óleo de soja, farelo de soja e ainda outros que dependem de importação, como o arroz, por exemplo. “Para as culturas de exportação, é positivo porque muitos negócios estavam travados, mas para o mercado interno, está complicado, porque não se pode repassar a alta para o consumidor”, concluiu.

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