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Dia do Índio pode mudar de nome de trazer mais representatividade para os povos indígenas

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Professora Linda Terena, de Aquidauana, destaca que o termo índio traz a carga da herança colonial

Comemorado anualmente no dia 19 de abril, o chamado Dia do Índio pode mudar de nome e passar a se chamar Dia dos Povos Indígenas, o que traduziria a diversidade dos povos originários, que são formados por diversas etnias, culturas, histórias e costumes.

Além disso, o termo “índio” traz uma carga pejorativa e coloca os indivíduos como pessoas sem identidade própria. O projeto de lei para a mudança do título da data é da deputada federal, Joenia Wapichana, a primeira indígena a ser parlamentar federal no Brasil.

A lei de n°5466 está tramitando no Congresso e espera a aprovação do Senado e sanção da Presidência para entrar em vigor. A mudança de nomenclatura para Dia da Diversidade dos Povos Indígenas irá reparar um erro histórico na história dos povos originários.

Entre os indígenas favoráveis à mudança está a professora Linda Terena, coordenadora de uma escola municipal de Aquidauana. De acordo com ela, o erro começa com o termo índio, que traz uma carga pejorativo, uma vez que a história da invasão européia ao Brasil diz que, quando os portugueses chegaram ao Brasil acreditando estarem na Índia e, por isso, nomearam os nativos de índio, sem considerar sua cultura ou modo de vida.

“Não existe e nunca existiu índio em nosso país, a própria história da conquista ou da invasão europeia é explícita em sua narrativa. Os navegantes quando viajavam em busca das especiarias remaram às Índias, não ao território que hoje é o Brasil. Esse equívoco em que imaginaram estarem nas Índias nos nomeou índios.”, explica a professora.

Além disso, ela explica que a troca do termo iria abranger de forma mais justa todas as diferenças que existem entre os mais de 300 povos indígenas, sendo que cada um tem suas particularidades como a língua falada, organização social, costumes e vivências.

Linda ainda destaca que a mudança pode colocar mais luz a diversidade existente entre os povos indígenas e ajudar a desconstruir imaginários errôneos e, muitas vezes preconceituosos, sobre essa população.

Mais especificamente sobre a data, a professora afirma que há uma interpretação ambígua sobre o sentido dela. Enquanto que para os indígenas o dia 19 de abril é um dia de rememorar os ancestrais e antepassados, que levaram de geração para geração o modo de vida, priorizando o coletivo, o partilhamento e o cuidado do outro.

“Para nós, povos originários, é motivo de celebração e rememoração às nossas ancestralidades, nossos antepassados que lutaram pela nossa resistência, nosso modo de ser e viver, perpetuar nossa cosmovisão, uma herança de nossos ancestrais. Ver o mundo de forma diferente da sociedade ocidental ou não indígena, de forma coletiva, partilhada, do cuidar do outro e natureza que nos permite a viver.”, explica.

Já para os não indígenas é uma data para comemorar a existência dos indígenas no Brasil. Contudo, de acordo com Linda, os mesmos que celebram essa existência, ainda não repensaram o conceito de indígenas criado por uma imagem da herança colonial dos portugueses.

“Ainda não é tão debatido e exposto seu processo histórico que é tão importante para conhecimento da sociedade não indígena como as nossas contribuições na formação dessa sociedade brasileira, na cultura, na economia em especial. Há uma imagem distorcida do que é ser indígena fundamentado na herança colonial”, pontua.

A visibilidade que o novo título da data traz pode também ter reflexos positivos nas políticas públicas voltadas aos povos indígenas. Linda ainda reforça que todas as conquistas na área da educação, saúde e inclusão social foram uma conquista do próprio povo, que lutaram por seus direitos.

A professora ainda afirma que essas políticas são importantes também para a representatividade dos povos indígenas nos diversos espaços que começam a ocupar, mesmo que ainda falte muito para se chegar a uma equidade em relação à quem não é indígena.

“As Ações Afirmativas existentes nas diversas universidades públicas são políticas que de certa forma nos permitiram acesso ao Ensino Superior, espaço delineado à elite brasileira. No entanto, graças a essas políticas instituídas no Estado, os povos originários foram gradativamente ocupando espaços importantes para representar seu povo.”, conclui.

Via Correio do Estado MS

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