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Justiça

Com cinco mortes de pacientes por dia, Regional deve esclarecer casos à Justiça

Redação

[Via Correio do Estado]

Constantemente alvo de reclamações por parte dos usuá­rios, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS), informou, após solicitação do Ministério Público do Estado (MPMS), que 1.140 pessoas morreram no local, entre 1º de fevereiro e 14 de outubro de 2019. Ou seja, neste período de sete meses e meio, uma média de cinco pacientes morreram por dia dentro da unidade. O HR, segundo assessoria, recebe cerca de 120 mil pacientes no ano.

Uma das pessoas que sofreram com a perda de um familiar foi a dona de casa Cláudia Cristaldo, 39 anos, que viu a mãe, Carmem Cristaldo, 61 anos, morrer no hospital. “Minha mãe entrou consciente e saiu em um caixão. Na enfermaria, ela estava superbem, conversando, rindo e de repente, por uma incompetência de uma enfermeira, minha mãe ficou entubada e veio a falecer”, disse ela ao Correio do Estado. Cláudia contou que a mãe entrou no HR no dia 22 de maio, em estado gravíssimo, e ficou no Centro de Terapia Intensiva (CTI) antes de ser encaminhada para a enfermaria.

Cláudia revelou que Carmem sofreu negligência por parte de uma enfermeira, chegando até a ficar sem remédios essenciais. “Percebi que [minha mãe] continuava com falta de ar e chamei a enfermeira novamente. Ela me deu a mesma resposta: que minha mãe não estava passando mal, que só iria socorrer minha mãe se ela estivesse roxa”, contou ela, revelando que horas antes seu pai já havia solicitado ajuda da mesma profissional. “Minha mãe não recebeu nenhuma medicação que recebeu durante os outros dias na enfermaria, que eram de inalação e remédios para dor, falta de ar, etc.”, afirmou, explicando que depois disso a mãe passou por procedimentos cirúrgicos, mas não melhorou. Durante a internação, Carmem também teve infecções por duas vezes.

Neste tempo, ela precisou tomar remédios para manter a pressão estável, mas estes logo foram cessados pelo hospital. “Chamaram a família e disseram que o que a medicina podia fazer por ela tinha feito, que ela só dependia de um milagre. Eu não achei certo tirarem os remédios dela. Como uma pessoa que precisa de remédio para pressão aguentaria sem remédios?”, reclamou a dona de casa, que informou que a mãe morreu um dia depois do comunicado, em 10 de setembro.

Sobre o número de vítimas, o diretor-presidente do HR, Márcio de Souza Pereira, disse somente que está “dentro das estatísticas de hospitais desse porte”, mas não forneceu mais detalhes.

O juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, determinou que o HR seja investigado para apurar se houve improbidade administrativa, omissão de socorro e crime dos gestores públicos pela morte dessas 1.140 pessoas. De acordo com informações cedidas pelo próprio hospital, aproximadamente, 115 pessoas que estavam doentes e morreram tinham menos de 40 anos de idade. “Pessoas falecidas eram muito jovens”, diz parte do documento assinado pelo juiz.

A Fundação Estadual de Saúde (Funsau), responsável pela administração do hospital, pediu prazo de 180 dias para informar o estado de saúde das vítimas que morreram no momento em que elas chegaram ao hospital, quanto tempo esperaram pelo socorro médico e qual foi a causa da espera. A fundação declarou que para tal levantamento será necessário fazer mutirão com vários médicos para analisar os prontuários e obter as informações.

Diante da justificativa da Funsau, o juiz declarou que, em razão do elevado número de casos e do trabalho que levará para fazer o levantamento, bem como da utilização dos poucos profissionais que atuam no hospital, não será necessário, pois as “informações existentes no processo já bastam para se ter uma ligeira noção das possíveis consequências da provável ineficiência administrativa relatada nos autos”, completou o juiz.

A principal conduta que será investigada, de acordo com o magistrado, é dos administradores públicos diretamente envolvidos na cadeia de decisões pelos levantamentos de necessidades, de compras, de pagamentos e de administração da saúde no Estado.

INTIMAÇÃO

No início de outubro, o Hospital Regional foi intimado a apresentar, no prazo de 15 dias, relatórios com números de pacientes que morreram no decorrer dos meses de janeiro a outubro. A informação que o juiz queria era sobre mortes decorrentes da ausência de materiais, exames e por terem aguardado atendimento por falta do número adequado de profissionais.

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