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Com 100 anos, Arunoe ensina a crianças A tradição da aldeia

Redação

[Via Correio do Estado]

Com 100 anos de idade, Arunoe mantém a tradição de colher o algodão cultivado na Aldeia Lagoinha, no município de Aquidauana, transformá-lo em linha e, posteriormente, em arte.

Avó do professor de Português e de Língua Terena da Escola Municipal Indígena Marcolino Lili, Alcery Marques Gabriel, 44 anos, ela foi convidada a repassar parte deste conhecimento, que remonta a um século, para estudantes do 5º ao 9º ano da instituição de ensino.

“Ela faz a linha e os tapetes desde a adolescência e aprendeu com os pais dela. O algodão é colhido na aldeia, ela mesma faz a linha, que é o material para o tapete. Esse método é o mesmo durante todos esses anos”, afirma Alcery.

Arunoe tem um nome brasileiro, Albina Candido, mas está distante de outra cultura. A avó centenária se mantém fiel à língua terena e à aldeia em que nasceu e vive até hoje. Em outubro, completa 101 anos, bem vividos como parteira e artesã. “A ideia foi oportunizar que os estudantes conhecessem essa tradição, que não está na internet. Eu tiro por mim: ela também mexia com raízes e, mesmo sendo neto dela, eu não tive interesse em aprender e agora minha avó não consegue mais ir para o mato fazer raizada. Aproveitei enquanto ela consegue andar até a escola para que pudesse demonstrar e resgatar esses conhecimentos tradicionais, dos anciões da aldeia”, explica Alcery.

“Raizada” é o nome popular na aldeia para o uso de plantas e raízes para fins medicinais. “Sim, são os remédios. Além disso, ela era parteira, mas hoje não consegue mais acompanhar as gestantes. Só ficou mesmo com a linha de algodão, ela se ocupa disso. Na escola, elamostrou como ela colhe, tira as sementes do algodão, até chegar à linha, todo esse processo”, diz, orgulhoso.

Professor de Língua Terena, Alcery diz que precisou ajudar as crianças com algumas traduções, já que Arunoe não fala português.

“A minha aula foi de uma hora e eu juntei todas as minhas turmas, então, foram 75 estudantes. Eu vi o interesse de alguns alunos, porque eles não conheciam ou nunca presenciaram o processo. Então, foi curioso e interessante. Eu vi que eles ficaram impressionados. As crianças de hoje só vivem no celular, é o que ocupa a maior parte do tempo deles. Então, isso foi inusitado”, afirma.

Alcery diz que a avó adorou participar e já está com uma próxima aula agendada. “Ela achou importante porque está repassando o conhecimento dela para os meninos. Agora queremos que ela fale também com os alunos do Ensino Médio”, ressalta.

Para Dionedison, a cidade está presente 24 horas por dia na aldeia. “Por isso, é importante que os mais velhos transmitam esse conhecimento. A juventude não tem noção de como é feita a linha de algodão, por exemplo, um trabalho que ainda é produzido na aldeia. Nós vivenciamos o passado por meio dessas histórias e dessas pessoas”, ressalta.

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