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Banca do Natércio se mantém há 56 anos vendendo jornal e revista

Redação

[Via Correio do Estado]

Ainda é possível sentir o cheiro do papel ao entrar na Banca do Natércio, em Corumbá. Desde 1963 no mesmo ponto, na esquina da Rua Frei Mariano com a Rua 13 de Junho, a banca se mantém firme na resistência, sem ceder à venda de capas para celulares ou ao comércio de outros produtos. No local, a prioridade são as revistas, jornais e histórias em quadrinhos, que chegam na versão inglês e espanhol.

Por trás da história da banca está Natércio Pinheiro de Oliveira, 77 anos, pantaneiro legítimo da região de Porto Murtinho. “Eu nasci no Pantanal, mas todo mundo naquela época buscava uma vida melhor em Corumbá, que era a cidade mais importante do Mato Grosso integrado”, relembra Natércio. Na Cidade Branca, o jornaleiro aprendeu ainda criança a amar os jornais. “Eu comecei a vender jornal no final de 1954, início de 1955, quando o finado presidente faleceu. Queria vender por causa da procura, mas não tinha como atender todo mundo que queria ler o jornal naqueles dias”, explica Natércio.

O presidente em questão foi Getúlio Vargas, que se suicidiou em 24 de agosto de 1954. “Depois disso, passou um tempo eu decidi vender jornal de vez. Antes eu engraxava sapato. Então eu fui até a distribuidora de jornais e revistas da época e peguei em consignação. Naquela época a revista mais famosa, que todo mundo queria ler era O Cruzeiro”, explica.

O posto de dono da banca, Natércio só conquistou em 1963, quando colocou a placa com o seu nome no local. “Eu resolvi trabalhar na distribuidora e durante muito tempo eu fiquei lá, até que fui transferido para a banca de revistas. Depois quiseram que eu voltasse para a distribuidora, mas eu não quis”, conta.

Foi quando, por meio de um acordo, Natércio e a empresa negociaram a banca de revistas. “Consegui receber a banca como parte dos direitos trabalhistas pelo período que fiquei com a distribuidora”, frisa.

Nesse caminho, Natércio se apaixonou pelas notícias. “Eu ainda gosto da banca, nunca gostei de outra coisa na vida a não ser essa situação. Aprendi a ler desde garoto, as notícias de esporte foram as minhas primeiras leituras. Lia tudo de graça porque trabalhava com isso e na época era o que tinha, antes da televisão vir, eram as fotonovelas que faziam sucesso”, diz.

Foi trabalhando na banca que Natércio construiu o casamento de 54 anos e criou os filhos. Só parou de trabalhar, quando sentiu as consequências do estresse.

“Em 2012 fiquei doente, com estresse, cheguei a pesar 37 kg, graças a Deus eu recuperei. Depois precisei fazer uma cirurgia de próstata. Como meu filho é militar e mora no Rio de Janeiro fui fazer a cirurgia lá. Hoje, tenho alguns efeitos colaterais por causa do último tratamento, mas estou bem de saúde”, explica.

Quem cuida do negócio da família é a sobrinha de Natércio, Marileide Nunes da Costa e o marido, Ivalney de Brito. “Eu e minha esposa tocamos o negócio faz uns nove anos. Ela já trabalhava nesse ramo, em outra banca de revista, então ela quem manda lá. Eu sou mais da comunicação”, brinca Ivalney.

Expectadora de todas as fases da imprensa, a banca do Natércio se mantém firme por causa do amor da família pelas notícias. “Nos primeiros quatro anos foi tudo ótimo. Vendemos bem, trouxemos um gás novo, mas depois a tecnologia cresceu muito, as pessoas estão deixando de ler jornais e revistas. O público que mais procura esse tipo de notícia é quem está com mais de 40 anos”, explica Ivaney.

A principal venda da banca são os jornais locais e as revistas semanais. “Vendemos muito as revistas especializadas. As histórias de quadrinhos também tem uma boa procura, da Marvel, da DC, a Turma da Mônica, que agora vem na versão em inglês e espanhol. O pessoal que mora na Bolívia também compra aqui”, conta.

Os jornais nacionais ficaram no passado. “Faz uns dez anos que eles não são mais distribuídos porque não chegam. Os horários de entrega não dão certo”, diz.

Para Natércio, agora restou saudade. “Porque a gente convivia com número grande de pessoas e de clientes, todo dia na hora que chegava o jornal a banca estava lotada de gente, distribuía para a marinha, exército, corpo de bombeiro, órgão da prefeitura, só de jornal reservado eu tinha duas caixas grandes de supermercado”, relembra.

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